Domus italica em Pompeia

Por Marcelo Albuquerque

Como vimos anteriormente (ver Domus italica), as casas romanas eram mais que um mero abrigo para o corpo físico; era o ponto de encontro da família e o centro das cerimonias religiosas mais intimas. De origem etrusca, as casas ou domus eram o tipo de habitação mais comum entre a nobreza e os endinheirados romanos, construídas com nobres e resistentes materiais. As domus mais bem preservadas estão nos sítios arqueológicos de Pompeia e Herculano, e parte considerável dessas residências continua sendo escavada em Pompeia. A seguir veremos algumas domus que são abertas à visitação do público, porém eventualmente algumas permanecem fechadas para trabalhos de restauração.

A domus italica, em geral, possui uma configuração básica que se repete independentemente da extensão da casa, composta pelo fauces, átrio, cubículos, alas, tablinum, triclínio, cozinha e latrina. Quanto mais posses e riquezas tiver o senhor da casa, maior a casa, e esta poderia agregar e repetir essas estruturas, bem como agregar jardins internos, externos e peristilos, além de andares superiores e mezaninos.

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Domus italica: Variações. Adaptado por Marcelo Albuquerque.

De maior grandiosidade, a Casa do Fauno é nomeada assim por causa da estátua em bronze de um fauno dançando encontrada no local, cuja réplica se localiza atualmente no centro do impluvium. É um belo exemplo do resultado da fusão dos modelos arquitetônicos da casa Itálica centrada em torno do átrio e o helenístico peristilo de habitação. Ocupa uma insula inteira, ou seja, como um bloco inteiro de quarteirão moderno. As insulas podem significar tanto este tipo quarteirão, como uma espécie de edifício de apartamentos da Roma Antiga. O mosaico no piso da exedra apresenta uma cópia de A Batalha de Issus, entre Alexandre e Dario, enquanto o mosaico original encontra-se no Museu de Nápoles (ver Mosaicos e trabalhos finos em pedra). Acredita-se que o mosaico de Pompeia seja uma cópia de um original grego helenístico perdido. O mosaico é uma reprodução de uma pintura feita na vida de Alexandre, ou logo após sua morte, possivelmente por Philoxenus ou Eretria. A Casa do Fauno possui um grande peristilo de ordem dórica, na qual é possível contemplar as belas colunas de alvenaria revestidas de estuque no estilo helenístico.

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Planta da Casa do Fauno. Fonte: adaptado de AD79 por Marcelo Albuquerque. Disponível em: https://sites.google.com/site/ad79eruption/pompeii/regio-vi/reg-vi-ins-12/house-of-the-faun. Acesso em: 17 set. 2016.

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Casa do Fauno: pórtico de entrada ornado com pilares de capitéis coríntios e imponente entablamento e cornija. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Casa do Fauno: fauces (vestíbulo) com elementos ornamentais, lararium com cornija e pinturas no primeiro estilo. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Casa do Fauno: átrio e impluvium com a réplica da escultura original do fauno. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Casa do Fauno: réplica da escultura original do fauno. O original encontra-se no Museu de Nápoles. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Casa do Fauno: primeiro peristilo. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Casa do Fauno: segundo peristilo. Novamente, nesta imagem vê-se claramente as tecnologias de construção romanas em alvenaria e estuques ornamentais, emulando caneluras de colunas de mármore grego. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Casa do Fauno: elementos construtivos do segundo peristilo. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Edifícios e estruturas de Pompeia

Por Marcelo Albuquerque

A Porta Marina, entrada principal do parque, até a fatal erupção do Vesúvio em 79 d.C., situava-se rente ao porto da cidade, na costa do mar, e atualmente está a quilômetros de distância. É por ela que se acessa o parque pela estação de trem principal e bilheteria. De acordo com o website oficial do Parque Arqueológico de Pompeia, a Porta Marina é semelhante a um bastião, e junto com Porta Herculano é uma das mais imponentes dos sete portões de Pompéia.  Possui dois arcos de abóbadas de berço combinados em uma única estrutura em opus caementicium, sendo que uma passagem se destinava a pedestres e a outra, maior, para veículos, separadamente.

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Entrada da Porta Marina do sítio arqueológico de Pompeia, a partir da estação de trem. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Entrada da Porta Marina do sítio arqueológico de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Entrada da Porta Marina e calçamento original romano. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Saída da Porta Marina, com detalhes das camadas estruturais das paredes. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Saída pela Porta Herculano, em direção à Via delle Tombe e Vila dos Mistérios. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Ao entrar pela Porta Marina, os calçamentos das ruas chamam atenção pela preservação de ricos detalhes. As ruas pavimentadas de Pompeia possuíam passadiços elevados para que os pedestres atravessassem com maior conforto, evitando as águas torrenciais e o esgoto da cidade. Em algumas pedras dos calçamentos podemos ver as impressionantes marcas dos aros metálicos das rodas dos carros romanos, que tinham um padrão de eixo de 1,40m. As fontes de água também chamam atenção e refrescam os visitantes que enchem as ruas das cidades.

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Rua e passadiço de Pompéia, com as marcas das rodas de carros. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Passadiço de rua de Pompéia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Marcas das rodas de carros em Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fontes em Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

O Fórum de Pompeia remonta ao período de ocupação samnita, quando se intensificou a monumentalidade arquitetônica de seus edifícios. Possui uma grande forma retangular, tendo ao norte o Templo de Júpiter (tríade capitolina) e, ao sul, no acesso para a Porta Marina, a basílica. Na praça central encontrava-se o grande pórtico com colunatas ladeando o fórum. Era cortado pelo cardus maximus e decumanus maximus, sendo o primeiro chamado Via del Foro e o último Via dell’Abbondanza. Ao contrário de uma típica cidade romana planejada, o fórum principal de Pompeia não se localizava próximo ao centro geográfico da cidade, mas estava deslocado para o oeste, no sentido da Porta Marina. À medida em que a cidade foi se expandindo, esta tomou a direção da Via dell’Abbondanza, ao leste, na região do anfiteatro. Na entrada do Fórum de Pompeia destacam-se as imponentes ruínas da basílica que datam do século II a.C.

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Planta do Fórum de Pompeia, adaptado de August Mau por Marcelo Albuquerque. Fonte: Wikipédia. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Pompeii. Acesso em: 12 jan 2018.

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Fórum de Pompéia. Fonte: Google Earth. Acesso em: 20 set. 2016.

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Basílica de Pompeia. Ao fundo a colunata coríntia do tribunal e alto podium. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Basílica de Pompeia, com as bases das colunatas, dando uma visão das dimensões das naves. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Pórtico da Basílica de Pompeia, com colunatas dóricas e jônicas. Vemos uma base para esculturas antecedendo a colunata dórica. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fórum de Pompeia com o Monte Vesúvio ao fundo. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Templo de Júpiter, com a tríade capitolina (Júpiter, Juno e Minerva), no fórum. Concreto e tufa. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Templo de Júpiter, com a tríade capitolina (Júpiter, Juno e Minerva), no fórum. Concreto e tufa. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Podium do Templo de Júpiter, em frente ao Maccelum, no fórum. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Além do fórum e seus templos, destacam-se outros edifícios como o Pistrinum (moinho), o Macellum (mercado de alimentos), as termas e pequenos restaurantes.

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Maccelum, no fórum. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Depósito de artefatos situado no Fórum de Pompeia, local de trabalho e catalogação arqueológica. Encontra-se nesse local moldes de gesso de corpos humanos. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Ânforas e vasos cerâmicos diversos no depósito do Fórum de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Carroça de madeira no depósito do Fórum de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Corpo de criança no depósito do Fórum de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Latrina do Fórum de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Roma: cidades e fundamentos urbanos

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Por Marcelo Albuquerque

Aqui pretendo traçar linhas gerais sobre a concepção de uma cidade romana criada praticamente do zero, a partir de assentamentos militares e com fins coloniais. A cidade de Roma não se enquadraria nesse contexto, por ter se formado em um período distante e com circunstâncias diferentes, como apresentado em Origens Míticas e Históricas. O desenho urbano[1] romano ainda se apresenta em muitas cidades europeias e do Mediterrâneo, como no norte da África e no Oriente Médio, preservando os desenhos originais e centros mais antigos. Como aponta Mumford, em A cidade na história, os romanos, segundo Varrão, realizavam ritos etruscos ao fundar novas cidades. Não começavam simplesmente com um augúrio, mas também com a demarcação dos contornos da cidade por um sacerdote que guiava a charrua. Dessa prática surgiu o pomerium, um cinturão sagrado dentro e fora da muralha, onde nenhum edifício podia ser edificado, representando os limites sagrados[2] (ver Palatino).

Os romanos privilegiavam uma cidade planejada ortogonalmente conectada pelas estradas pavimentadas, abastecida por aquedutos e rede de esgotos[3]. O planejamento seguia as tradições etruscas e gregas, especialmente as das cidades helenísticas. A cidade helenística, como aponta Mumford (1998), é equipada com sistema sanitário, possui ordenação geométrica e tende a uma estética unificada. A impressão estética é enaltecida com a adoção de longos eixos em perspectiva e monumentalidade. Hipódamo de Mileto (498-408 a.C.) foi um teórico da cidade grega, representante da antiga Escola Jônia. Hipódamo foi o introdutor de uma planificação apoiada em ruas largas que se cruzavam em ângulos retos, como um tabuleiro de xadrez. Já o traçado em tabuleiro das cidades planejadas era uma tradição da Jônia, desde o sec. VII, aplicado às colônias gregas que se espalhavam pelo mundo mediterrâneo e outras regiões interioranas. O desenho reticulado designava áreas distintas adequadas ao modo de vida e divisão de classes gregas, estabelecendo as áreas comerciais, residenciais e as ágoras planejadas. Foi o primeiro arquiteto grego conhecido a conceber um planejamento urbano e a estrutura de uma cidade a partir de um ponto de vista que privilegiava a funcionalidade.

As novas cidades eram planejadas como novas colônias, carecendo de fortificação e um bom sistema de defesa. As cidades, exceto Roma, possuem seu espaço dividido em quadrângulos regulares, baseados nos acampamentos militares chamados castrum (ver Castrum), cujo centro era denominado fórum. Dessa forma, o castrum era dividido em quatro partes, chamados distritos. Algumas cidades possuíam áreas sagradas elevadas, as acrópoles, segundo tradições itálicas e helenísticas. O esquema mais organizado era o baseado em dois eixos principais: o cardo maximus (norte-sul) e o decumanus maximus (leste-oeste), cuja interseção se encontravam os fóruns. Entretanto, algumas cidades, como Pompeia, possuíam dois ou mais fóruns secundários. A forma da cidade geralmente correspondia a um quadrado, mas poderia ser em um polígono desigual, como a cidade de Silchester na Grã-Bretanha[4]. Nos fóruns, como foi visto anteriormente, eram realizadas as principais reuniões políticas, legislativas, judiciais, comerciais e religiosas (ver Fórum Romano).

Mumford, em A cidade na história, aponta algumas características das cidades romanas. Hígeno, arquiteto romano, considerava o tamanho ideal de uma cidade romana planejada em 730 por 490 m., como Turim e Aosta, principalmente devido às estratégias de defesa e fortificação[5]. As cidades parecem ter sido planejadas para, no máximo, 50.000 habitantes. Podiam haver legislações sobre o tráfego intenso de carroças, com leis que proibiam o trânsito de dia, conforme decreto de Júlio César, banindo o tráfego de rodas durante o dia em Roma, causando um problema maior: o tráfego a noite, perturbando o sono dos cidadãos romanos. Sobre as cidades romanas, o autor comenta:

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Lucca romana. Adaptado do Google Earth. Marcelo Albuquerque, 2017.

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Tecnologias de construção romanas

Por Marcelo Albuquerque

Apreciar e conhecer a arquitetura da Roma Antiga implica na distinção das diversas técnicas de construção dos romanos, em especial as relacionadas ao concreto pozolana. As técnicas podem ser usadas independentemente umas das outras, ou mescladas em um único edifício.

Na antiga Grécia, os templos eram construídos com blocos de pedras justapostas e encaixadas entre si, sem argamassa, com extrema precisão, devidamente pré-fabricados ou adaptados direto na construção, como ocorre no Parthenon. Podiam receber grampos de metal (cavilhas), chamados de “gatos, tecnologia que ficará na engenharia até os dias de hoje, comum nas cidades coloniais brasileiras, como Ouro Preto. Os gatos do Coliseu, por exemplo, foram retirados durante a Idade Média para serem reaproveitados para diversos fins, deixando lacunas e buracos visíveis na alvenaria (ver Coliseu). Em Roma, o uso do concreto e da alvenaria substitui em grande parte o uso de blocos de pedra.

Na Grécia, as colunas raramente são monolíticas, constituindo-se de tambores separados e encaixados com precisão. Após a montagem dos tambores, vinha o trabalho de acabamento das caneluras. Em Roma, boa parte das colunas em estilo grego eram construídas de alvenaria e concreto, sendo revestidas com estuque, de forma a imitar o mármore grego e suas caneluras, como vemos na imagem a seguir do grande peristilo da Casa do Fauno, em Pompeia.

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Peristilo da Casa do Fauno, em Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

No campo das tecnologias de construção, o concreto romano (opus caementicium, conhecido como “pozolana”, permitia construções sólidas embaixo d’água, como pontes e grandes alicerces. Seu nome deriva-se de Pozzuoli, cidade perto de Nápoles, de onde se extraiam as cinzas vulcânicas do Vesúvio. Os gregos conheciam o concreto, mas apenas aplicavam em estruturas subterrâneas, eventualmente. A adoção do concreto pozolana data do século III ao II a.C. sendo um ponto de convergência na arquitetura romana, permitindo o desenvolvimento na concepção de grandes espaços e vãos, maiores alturas, monumentalidade e variações plásticas aplicadas às ordens arquitetônicas. Vitrúvio descreve sua receita em seu tratado de arquitetura, no Livro II. Era composta basicamente com cal hidratada, compostos de silício, alumínio, oxido de ferro e cinzas vulcânicas. Podia ter pedaços de tufa e cacos de cerâmica. Comparado aos concretos modernos, como o cimento Portland, o concreto pozolana requer menos energia para a cura.

A mistura era feita na própria obra, através de formas. O uso de formas e moldes formava a estrutura interna da parede, que depois recebia o acabamento externo mais nobre, geralmente, como pode ser observado nas grandiosas cúpulas romanas (ver O Panteão). A Ponte Emília ou Ponte Partida (Ponte Rotto) é a mais antiga ponte em arco construída em pedra e concreto em Roma, do século II. Ela atravessava o rio Tibre, ligando o Fórum Boário ao bairro de Trastevere (ver Aquedutos e pontes). Dentre os diversos tipos utilizados na Roma Antiga, destacam-se:

Opus caementicium: consiste na construção de espessas paredes de concreto e fragmentos de pedras e cerâmicas, base para as demais construções em concreto dos romanos. Em geral, a estrutura era revestida para acabamentos estéticos, com aplicação de estuques, pinturas, afrescos e mosaicos.

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Opus caementicium com revestimento de estuque decorado, nas abóbadas das termas de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Opus caementicium formando o núcleo da estrutura, revestida de opus reticulatum na parte superior e opus testaceum na inferior. Villa Adriana, Tivoli. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Opus incertum: consiste de revestimento ou núcleo de pedras de formas irregulares, sendo uma das mais antigas formas de construção. Costuma ser confundido com o opus caementicium por causa de sua aparência. De acordo com Cunha, na maioria das vezes os revestimentos são colocados de forma que a face lisa das pedras se sobressaiam, formando uma superfície plana, sem pontas quebradas aparentes. As obras mais rústicas podiam receber uma argamassa para cobrir as imperfeições.

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Opus incertum do criptopórtico do Templo de Vênus e Roma, em frente ao Coliseu, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Circos

Por Marcelo Albuquerque

Os circos eram os lugares dedicados especialmente às corridas de cavalos, que conduziam bigas e quadrigas, em geral. O nome deriva do latim “círculo”, pois as corridas ocorriam em pistas que possuíam uma curvatura em uma de suas extremidades, sendo a outra reta. A pista era coberta de areia, composta por duas vias retas paralelas, separadas por um alto pódio chamado spina, ligadas por duas curvas acentuadas em 180 graus. Em cada extremidade das curvas, na spina, havia um tipo de coluna chamada “meta” (metae), em torno da qual os corredores teriam que virar. Em geral, a distância entre as metas era de 200 metros, mas podia ser maior nos grandes circos. O circo tinha, na totalidade, a forma de um grande retângulo alongado, sendo que um dos lados mais curtos era arredondado, enquanto o outro era reto. No lado reto haviam as estrebarias, chamadas cárceres, ou seja, os ambientes onde se agrupavam os corredores e os animais antes das largadas. As estruturas dos cárceres eram geralmente monumentais, com torres e salas para diversos usos e fins. Ao redor do perímetro, as arquibancadas se elevavam em grandes estruturas de concreto. O filme Ben-Hur, de 1959, tornou-se célebre por suas imagens icônicas da emocionante e fictícia corrida de quadrigas no circo de Jerusalém.

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Cena de Ben-Hur.  Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://es.wikipedia.org/wiki/Ben-Hur_(pel%C3%ADcula_de_1959). Acesso em: 12 fev. 2017.

Os circos se localizavam próximos aos palácios, nas áreas mais centrais, para que os governantes e sua corte pudessem acessá-lo com conforto e segurança. Os mais famosos circos estavam em Roma, sendo o maior o Circus Massimus, entre o Palatino e o Aventino. Este circo foi utilizado para os jogos e para aclamação do imperador, onde eram realizadas celebrações, festas e execuções públicas.

Circus Massimus é profundamente atrelado à história e aos mitos de Roma, lembrado como o local do lendário Rapto das Sabinas, nos tempos de Rômulo. No passado longínquo era o local das atividades comerciais devido à sua posição estratégica junto ao Tibre, favorecido por sua topografia.  Possuía cerca de 600 metros de comprimento e 200 de largura, sendo a maior estrutura para espetáculos já realizada na história. Nos tempos de César atingiu os 150.000 espectadores, e na época dos Flávios teria atingido os 250.000 espectadores. O rei etrusco Tarquínio Prisco, no século VI a.C., iniciou as construções das estruturas em madeira, sendo gradualmente substituída pelas instalações de alvenaria de pedras a partir do século IV a.C., quando se ergueram os cárceres voltados para a margem do Tibre. Tarquínio Prisco, como recorda Giordani, edificou o circo de Roma e instituiu os jogos romanos (circum Romae aedificavit; ludus Romanos instituit)[1]. Júlio César, em meados do século I a.C, deu a forma final ao circo com alvenarias diversas e concreto romano.

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Modelo do Circus Massimus, Roma.  Fonte: Wikimedia Commons. https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Models_of_Circus_Maximus_(Rome)?uselang=it. Acesso em: 12 fev. 2017.

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Circus Massimus. Fonte: Google Earth. Acesso em: 12 fev. 2017.

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Vista do Circus Massimus sobre o Palatino. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Vista do Circus Massimus sobre o Palatino. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Circus Massimus e o Palatino, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Giuseppe Fiorelli e os moldes de gesso

Por Marcelo Albuquerque

Giuseppe Fiorelli, quando assume o comando das escavações em 1863, em Pompeia, encontra espaços vazios nas camadas de cinzas que continham restos humanos. Ele percebeu que estes espaços foram deixados pelos corpos em decomposição e por isso desenvolveu a técnica de injeção de gesso para refazer as formas das vítimas. Algumas possuem uma expressão de terror claramente visível. Atualmente, esta técnica está em uso, porém o gesso foi substituído por uma resina especial que permite uma melhor conservação e estudo dos corpos. A resina, por ser mais durável e não destruir os ossos, permite análises mais aprofundadas. Fiorelli estabeleceu um método de escavação que partia de cima para baixo, visando a reconstituição futura das construções.

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Moldes e corpos de vítimas em exposição no anfiteatro de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Moldes e corpos de vítimas em exposição no anfiteatro de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Moldes e corpos de vítimas em exposição no anfiteatro de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Pompeia – introdução

Por Marcelo Albuquerque

Estudar a cidade de Pompeia é uma das melhores oportunidades de voltar ao passado e conhecer de perto as tecnologias de construção e os interiores das casas dos ricos romanos. O conhecimento geral da cidade proporciona um panorama de análise sobre todo o mundo romano, não só de como era uma típica cidade romana em si, indo além, pois fornece conhecimentos sobre detalhes mínimos da arquitetura, planejamento urbano, mobiliário e costumes dos cidadãos de Roma. A cidade foi uma espécie de balneário muito valorizado e frequentada por ricos e famosos.

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Mapa de Pompeia. Adaptado por Marcelo Albuquerque. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Map_showing_the_main_streets_of_Pompeii.jpg. Acesso em; 06 jan. 2018.

Pompéia está situada ao sul de Nápoles, na região da Campânia italiana. A cidade, junto à sua vizinha Herculano, no ano 79 de nossa era, foi destruída e soterrada por cinzas vulcânicas e pedras-pomes durante a grande erupção do Monte Vesúvio. Sua população era estimada em cerca 11.000 pessoas, porém sabe-se que a maior parte conseguiu escapar a tempo do desastre. Os que morreram no local foram enterrados sob toneladas de cinza vulcânica.

A destruição foi narrada na carta de Plínio, o Jovem, que viu a erupção a uma distância segura e descreveu a morte de seu tio Plínio, o Velho, célebre historiador e almirante da frota romana, que morreu intoxicado durante o resgate de cidadãos. O Monte Somma e o Vesúvio faziam parte da mesma montanha, que se dividiu na erupção de 79. Sua altura chegava a 2.000 m. O mar afastou-se da costa aumentando a distância entre Pompeia e o litoral.

Depois que as grossas camadas de cinzas cobriram Pompéia, ela foi abandonada e esquecida. Em 1599, os primeiros vestígios foram encontrados, quando um canal subterrâneo foi escavado para desviar as aguas do rio Sarno, revelando paredes cobertas com pinturas e inscrições. O arquiteto Domenico Fontana foi chamado, e este revelou mais alguns afrescos, mas, em seguida, cobriu-os de novo, pois o conteúdo sexual frequente de tais pinturas poderia comprometer a integridade das mesmas devido aos moralismos e contextos da época. Em 1738 iniciaram-se as escavações de Herculano, e dez anos depois em Pompeia. Atualmente, é Património Mundial da UNESCO. A beleza da cidade escavada está na possibilidade de estudar um instantâneo da vida romana no século I, congelado no tempo em que foi soterrada, no dia 24 de agosto. A cidade de Pompeia segue a tradição de planta romana com seu cardus e decumanus bem definidos, convergindo no seu belo e monumental fórum. Tinha um sistema complexo de águas, anfiteatro, teatros, ginásio, termas e muralhas com sete portas ao longo de seu perímetro.

Os afrescos fornecem informações valiosas para a historiografia da arte do mundo antigo, através dos quatro estilos de pinturas romanas. Muitas pinturas possuem teor erótico, incluindo o uso frequente do falo dedicado ao deus Príapo, inclusive nas esculturas e estuques nas paredes, enquanto outras representam cenas dramáticas e mitológicas.

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Casa do Poeta Trágico: cena de Teseu e Ariadne no triclínio decorado com painéis amarelos no quarto estilo, com arquiteturas fantásticas. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

O sítio arqueológico de Pompeia está sob constante ameaça devido à deterioração causada pela exposição aos elementos naturais, aos milhões dos visitantes a cada ano e aos danos potenciais das atividades sísmicas e vulcânicas. Recentemente foi divulgado nos grandes jornais brasileiros alguns desmoronamentos e problemas na conservação e administração na cidade de Pompeia[1]. Diversas autoridades ficaram em alerta, não só pelas péssimas condições de conservação, mas também por denúncias de corrupção. Há poucos anos, desmoronamentos na cidade de Pompeia deixaram em alerta diversas autoridades no assunto por causa desses motivos. Segundo a imprensa, os fundos estavam sendo desviados pela máfia, junto à má gestão e saques de pedaços de afrescos e outros elementos históricos. A situação tornou-se mais preocupante após o desmoronamento da Casa dos Gladiadores, em 2010. Segundo o Estadão, a Associação Nacional dos Arqueólogos da Itália expressou “pesar e raiva” sobre o mais recente desmoronamento e criticou o governo por não nomear alguém para liderar a restauração. Parte do muro de um jardim que cercava uma antiga casa, nos arredores da Casa do Moralista e perto da Casa dos Gladiadores, cedeu em diversos pontos, devido à umidade extrema do solo e negligência. A Casa do Moralista constitui-se de lares de duas famílias da cidade antiga, fechadas à visitação aos turistas.

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Rua de Pompeia, próxima à Casa do Fauno, com o monte Vesúvio ao fundo. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Villas

Por Marcelo Albuquerque

As villas são residências de uso urbano e rural, ou apenas rural, que devem conter caves, celeiros, currais, silos e armazéns de acordo com agricultura e pecuária da região. Em Pompéia, a mais famosa é a Vila dos Mistérios, facilmente acessada pela Via delle Tombe, encontrando-se cerca de 400 metros a noroeste das muralhas da cidade. Pompéia está em uma região fértil, com ricos solos vulcânicos, que cercam o Monte Vesúvio e que sempre foram excelentes para a agricultura, desde a Antiguidade. A Vila dos Mistérios, na área rural circundante de Pompéia, foi uma das vilas dedicadas ao cultivo de frutas, verduras, cereais, cevada e trigo, juntamente com o vinho e o azeite. As vinhas foram de extrema importância para a economia de Pompéia.  Acredita-se que as vinhas da antiga Pompeia são muito semelhantes em estrutura às modernas vinhas atuais. A Vila dos Mistérios proporciona uma fantástica visão de planta e de técnicas construtivas de uma abastada vila romana rural, mas que mantem no desenho várias semelhanças com a domus urbana. A Vila dos Mistérios remonta originalmente ao século II a.C., mas o seu layout atual foi sendo modificado até aproximadamente o ano 62 de nossa era.

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Planta da Vila dos Mistérios. Fonte: AD79. Disponível em: https://sites.google.com/site/ad79eruption/pompeii/villas-outside-the-walls/villa-of-the-mysteries. Acesso em: 17 set. 2016.

Na figura acima, podemos localizar as seguintes áreas: (a) via superiore-vestíbulo, (b) quarto dos empregados, (c, e) sala, (d) corredor, (f) latrina, (g) peristilo, (h) torcularium, (i) cozinha secundária, (j) pátio da cozinha, (k) átrio tetrastilo, (l) tepidarium, (m, p, q, t) cubiculum, (n) oecus, (o) átrio principal, (r) tablinum, (s) varanda tipo exedra, (u) triclínio dos Mistérios Dionisíacos, (v) pórtico, (x) viridaria, (y) pórtico do sudeste.

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Vila dos Mistérios: panorama mostrando as profundas escavações e o pórtico do sudeste. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Vila dos Mistérios: podium com arcadas cegas e criptopórticos do sudeste. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Vila dos Mistérios: detalhe de coluna do pórtico sudeste e sua tecnologia de construção em alvenaria com revestimento de estuque. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Vila dos Mistérios: átrio principal. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Vila dos Mistérios: corpo de gesso no átrio principal. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Vila dos Mistérios: oecus (sala) ricamente ornamentada com pinturas no segundo estilo, com arquiteturas imaginárias. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Vila dos Mistérios: oecus (sala) ricamente ornamentada com pinturas no segundo estilo, com arquiteturas imaginárias. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Vila dos Mistérios: oecus (sala) ricamente ornamentadas com pinturas no segundo estilo, com arquiteturas imaginárias. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Além de representar um belo exemplo preservado de uma vila romana, a Vila dos Mistérios é famosa pelos seus afrescos, em especial as pinturas do seu icônico triclínio. Nele está representado os Mistérios Dionisíacos ou ritos pré-nupciais. O tema da representação é um assunto muito discutido, não se sabendo ao certo qual o tema correto, devido aos elementos ambíguos que podem remeter aos dois sentidos.

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Vila dos Mistérios: triclínio dos Mistérios Dionisíacos. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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