Fórum de Trajano

Por Marcelo Albuquerque

O Fórum de Trajano é o último dos fóruns imperiais. Foi erguido com os despojos de guerra da conquista da Dácia (106 d.C.). Nele, encontram-se as ruínas da imensa basílica Ulpia e os mercados de Trajano, na encosta escavada na colina do Quirinal. Dentro dele, é possível caminhar por ruas romanas com calçamentos originais e estudar de perto as tecnologias de construção em concreto pozolana, arcadas, abóbadas e alvenaria. O projeto do fórum é atribuído ao arquiteto Apolodoro de Damasco, que acompanhou o imperador Trajano nas campanhas na Dácia. Além da basílica, destaca-se a icônica Coluna de Trajano e as ruínas das duas bibliotecas que ladeavam a coluna, consideradas uma das mais importantes da Antiguidade. Atualmente pode-se ver algumas de suas colunas de mármore originais dentro da Basílica de São Pedro no Vaticano.

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Fórum de Trajano. Vista para os Mercados de Trajano ao entardecer. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fórum de Trajano. Colunas da Basílica Ulpia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Basílica Úlpia. Desenho de Julien guadet, 1867. Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://it.wikipedia.org/wiki/File:Basilica_Ulpia_J_Guadet_1867.jpg. Acesso em: 23 jan. 2018.

As duas bibliotecas estavam dispostas simetricamente envolvendo a Coluna de Trajano, revestidas com materiais nobres como granitos cinzentos e mármores amarelos. A majestosa coluna é o único elemento quase intacto de todo o complexo, sendo ela um monumento funerário que celebra as conquistas militares de Trajano sobre a Dácia. Nos frisos da coluna, vê-se uma surpreendente narrativa como um grande rolo de papiro egípcio (que nos remete à concepção dos Livros dos Mortos), apresentando o imperados e seu exército subjugando seus adversários e aspectos técnicos e geográficos.

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Fórum de Trajano. Coluna de Trajano. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fórum de Trajano. Detalhe de friso da Coluna de Trajano. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Atualmente, o Mercado de Trajano funciona com museu e galeria de arte e exposições, com um arrojado projeto arquitetônico que celebra a interface entre a estrutura metálica, o vidro e as estruturas originais.

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Fórum de Trajano. Integração das estruturas de concreto antigas com vidro e estruturas metálicas. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fórum de Trajano. Ruas com calçamentos da época imperial. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fórum de Trajano. Vista interna da exedra. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fórum de Trajano. Vista interna. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Roma: cidades e fundamentos urbanos

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Por Marcelo Albuquerque

Aqui pretendo traçar linhas gerais sobre a concepção de uma cidade romana criada praticamente do zero, a partir de assentamentos militares e com fins coloniais. A cidade de Roma não se enquadraria nesse contexto, por ter se formado em um período distante e com circunstâncias diferentes, como apresentado em Origens Míticas e Históricas. O desenho urbano[1] romano ainda se apresenta em muitas cidades europeias e do Mediterrâneo, como no norte da África e no Oriente Médio, preservando os desenhos originais e centros mais antigos. Como aponta Mumford, em A cidade na história, os romanos, segundo Varrão, realizavam ritos etruscos ao fundar novas cidades. Não começavam simplesmente com um augúrio, mas também com a demarcação dos contornos da cidade por um sacerdote que guiava a charrua. Dessa prática surgiu o pomerium, um cinturão sagrado dentro e fora da muralha, onde nenhum edifício podia ser edificado, representando os limites sagrados[2] (ver Palatino).

Os romanos privilegiavam uma cidade planejada ortogonalmente conectada pelas estradas pavimentadas, abastecida por aquedutos e rede de esgotos[3]. O planejamento seguia as tradições etruscas e gregas, especialmente as das cidades helenísticas. A cidade helenística, como aponta Mumford (1998), é equipada com sistema sanitário, possui ordenação geométrica e tende a uma estética unificada. A impressão estética é enaltecida com a adoção de longos eixos em perspectiva e monumentalidade. Hipódamo de Mileto (498-408 a.C.) foi um teórico da cidade grega, representante da antiga Escola Jônia. Hipódamo foi o introdutor de uma planificação apoiada em ruas largas que se cruzavam em ângulos retos, como um tabuleiro de xadrez. Já o traçado em tabuleiro das cidades planejadas era uma tradição da Jônia, desde o sec. VII, aplicado às colônias gregas que se espalhavam pelo mundo mediterrâneo e outras regiões interioranas. O desenho reticulado designava áreas distintas adequadas ao modo de vida e divisão de classes gregas, estabelecendo as áreas comerciais, residenciais e as ágoras planejadas. Foi o primeiro arquiteto grego conhecido a conceber um planejamento urbano e a estrutura de uma cidade a partir de um ponto de vista que privilegiava a funcionalidade.

As novas cidades eram planejadas como novas colônias, carecendo de fortificação e um bom sistema de defesa. As cidades, exceto Roma, possuem seu espaço dividido em quadrângulos regulares, baseados nos acampamentos militares chamados castrum (ver Castrum), cujo centro era denominado fórum. Dessa forma, o castrum era dividido em quatro partes, chamados distritos. Algumas cidades possuíam áreas sagradas elevadas, as acrópoles, segundo tradições itálicas e helenísticas. O esquema mais organizado era o baseado em dois eixos principais: o cardo maximus (norte-sul) e o decumanus maximus (leste-oeste), cuja interseção se encontravam os fóruns. Entretanto, algumas cidades, como Pompeia, possuíam dois ou mais fóruns secundários. A forma da cidade geralmente correspondia a um quadrado, mas poderia ser em um polígono desigual, como a cidade de Silchester na Grã-Bretanha[4]. Nos fóruns, como foi visto anteriormente, eram realizadas as principais reuniões políticas, legislativas, judiciais, comerciais e religiosas (ver Fórum Romano).

Mumford, em A cidade na história, aponta algumas características das cidades romanas. Hígeno, arquiteto romano, considerava o tamanho ideal de uma cidade romana planejada em 730 por 490 m., como Turim e Aosta, principalmente devido às estratégias de defesa e fortificação[5]. As cidades parecem ter sido planejadas para, no máximo, 50.000 habitantes. Podiam haver legislações sobre o tráfego intenso de carroças, com leis que proibiam o trânsito de dia, conforme decreto de Júlio César, banindo o tráfego de rodas durante o dia em Roma, causando um problema maior: o tráfego a noite, perturbando o sono dos cidadãos romanos. Sobre as cidades romanas, o autor comenta:

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Lucca romana. Adaptado do Google Earth. Marcelo Albuquerque, 2017.

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Basílicas

Por Marcelo Albuquerque

As basílicas surgem em Roma, influenciadas por estruturas helenísticas dos centros administrativos, como as stoas das ágoras gregas, e foram modelos para as plantas basilicais das grandes catedrais da Idade Média. Não se destinavam a cultos religiosos. Acolhiam grandes salões, bibliotecas e um grande número de pessoas. Suas funções eram majoritariamente judiciais, funcionando como tribunais para várias instancias, mas também para às questões comerciais, civis e de entretenimento da Roma Antiga. Eram constituídas de grandes salões retangulares, com divisões internas de colunatas, muitas delas arcadas, formando uma grande nave central e duas ou mais naves laterais. Na cabeceira, localizava-se, em geral, uma abside, estrutura em forma de meio cilindro coberto com uma meia abóbada. Podia acolher a figura do imperador, como a estátua colossal de Constantino, acervo dos Museus Capitolinos (ver Basílica de Constantino). O catolicismo adotará a abside como elemento funcional e simbólico, sendo por excelência a localização próxima do altar medieval. Suas naves laterais podiam conter exedras, estruturas semelhantes em forma à abside.

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Marcelo Albuquerque: Basílica Julia. Desenho a partir de modelo 3D de L.VII.C. Nanquim e caneta marcador, 21 x 29 cm,  2018.

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Basílica Júlia, Fórum Romano. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Embasamento e fragmento de uma semi-coluna dórica adossada em uma pilastra da Basílica Júlia, reconstruída a partir de fragmentos originais. Fórum Romano. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Arco de Septímio Severo

Por Marcelo Albuquerque

Do império de Sétimo Severo, destaca-se o Arco de Sétimo Severo, no Fórum Romano. O arco, do ano 203, é ricamente ornamentado, com colunas independentes nas fachadas. Possui um grande arco central ladeado por dois menores. Os arcos laterais se comunicam com o arco central através de outras duas passagens arqueadas. Foi concebido para celebrar suas vitórias junto aos seus filhos Geta e Caracala sobre os Partas, na Mesopotâmia e Pérsia, entre 195 e 198. As composições dos painéis remetem à Coluna de Trajano, no que se refere à narrativa de conquistas militares, além das alegorias imperiais dos rios da Terra, das estações do ano e das Vitórias aladas.  É o arco romano mais antigo a possuir colunas livres nas fachadas, diferentemente do Arco de Tito, que possui meias-colunas agregas à fachada. Como de costume, acima do ático haviam os grupos de carros e estátuas de bronze imperiais. Conforme a tradição iconográfica, um lado do arco apresenta o tema da paz, enquanto o outro apresenta o tema da guerra.

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Arco de Sétimo Severo, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fachada leste Arco de Sétimo Severo, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Painéis do Arco de Sétimo Severo, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Chave de arco, Vitórias e arcada do Arco de Sétimo Severo, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Detalhe do capitel compósito e painéis do Arco de Sétimo Severo, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Arco de Tito

Por Marcelo Albuquerque

Saindo do Coliseu em direção ao Fórum Romano, encontra-se o Arco de Tito, construído em 81 d.C. pelo imperador Domiciano. Como vimos anteriormente, um arco de triunfo é uma estrutura monumental, com um ou mais arcos, para celebrar um importante evento relacionado a conquistas políticas, cívicas e militares. O arco comemora a conquista de Jerusalém pelo irmão de Domiciano, Tito, em 79 d.C. A conquista de Jerusalém resultou na destruição do Templo de Salomão, restando apenas os alicerces, conhecidos como o famoso Muro das Lamentações. Outra consequência da conquista foi a Diáspora dos Judeus, momento em que a nação judia se espalha pelo Ocidente e perde definitivamente o poder sobre a Terra Santa, até a criação do Estado de Israel, em 1948. A Via Sacra do Fórum Romano passa sob o Arco de Tito e se estende por todo o monumental fórum. A estrutura consiste em dois grandes pilares ligados por um arco, coroado com ático, que possui inscrições cívicas comemorativas, e no topo havia uma quadriga em triunfo. É decorado com frisos em relevos esculpidos e dedicatórias. Suas meias-colunas compósitas movimentam a fachada da estrutura.

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Arco de Tito, 81 d.C., Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Durante o século XIX as feições originais do Arco de Tito foram sendo restabelecidas e restauradas. Entre os elementos ornamentais, destacam-se a pedra da chave do arco, ou pedra angular, em forma de voluta, duas Vitórias aladas nos tímpanos do arco, a cornija ricamente adornada com mísulas e dentículos e os caixotões em relevo da abóbada. No centro da abóbada encontra-se um relevo com a apoteose de Tito. O ático do arco foi originalmente coroado provavelmente com uma quadriga dourada, e encontra-se a inscrição:

SENATVS

POPVLVSQVE · ROMANVS
DIVO · TITO · DIVI · VESPASIANI · F (ILIO)

VESPASIANO · AVGVSTO

(O Senado e o povo romano ao Divino Tito Vespasiano, filho do Divino Vespasiano)

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Arco de Tito, 81 d.C., Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Arco de Tito, 81 d.C., Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Frisos internos do Arco de Tito, 81 d.C., Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fórum Romano

https://www.youtube.com/watch?v=45XelNYyki0&list=PLqyjqev47LLD41_bIav89CjnGt3QmrRLY&index=3&t=338s

Por Marcelo Albuquerque

Denomina-se fórum o centro administrativo das cidades romanas, grandes ou pequenas, que possuíam em sua extensão os principais edifícios públicos administrativos, religiosos, comerciais e sociais. Na cidade planejada romana, as principais vias, chamadas de cardus maximus e decumanus maximus, se cruzavam nos fóruns, geralmente. Como Roma não foi uma cidade planejada e fundada em um único momento, ela não possui o cardus maximus e decumanus maximus em seu fórum principal[1]. Remetem às ágoras e acrópoles gregas, diante de suas funções, e antecedem as piazzas da Itália medieval (Siena, Florença, etc.).

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Fórum Romano. A partir da pintura O Martírio de Santa Inês, de Joseph Désiré Court, 1864. Óleo sobre tela, 498 x 812 cm. Marcelo Albuquerque, 2017.

O Fórum Romano, coração da república e do império, era formado pela junção de outros fóruns que eram acrescentados pelos sucessivos imperadores. Os principais fóruns de Roma eram o Fórum Romano Republicano, Fórum de Júlio, Fórum de Augusto, Fórum de Nerva e o Fórum de Trajano. Recebiam desfiles triunfais e eram cenário de festas religiosas, profecias e discursos políticos e judiciais. Historicamente, era o ponto de encontro da comitia curiata, grupo composto pelos homens adultos de Roma, que se reuniam e formavam uma assembleia onde as diferentes divisões eleitorais republicanas votavam. Atrás fica o Senado e a Cúria.

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Fórum Romano. Fonte: Google Earth, 2017.

O desenvolvimento da cidade de Roma é marcado por grandes obras de engenharia. A Cloaca Maxima antecipou os esgotos modernos, promovendo a evacuação nas ruas e drenagem dos pântanos entre as colinas de Roma, local do Fórum Romano. Templos da deusa da febre, em Roma, indicavam a gravidade das doenças contagiosas. Essa grande obra data dos tempos do rei Tarquínio Prisco, que também foi responsável pelo início da edificação do templo de Jupiter Optimus Maximus, no Capitolino, e do Circus Maximus, no vale entre o Palatino e o Aventino.

Cloaca Maxima, no Fórum Boário, Velabro. Roma. Fotos: Marcelo Albuquerque, 2019.

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Fórum Romano ao cair da noite. Destaque para o pórtico iluminado do Templo de Saturno, no primeiro plano. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fórum Romano. Destaque para o pórtico do Templo de Castor e Polux, no primeiro plano, as fundações do Palatino à direita, e o Arco de Tito, à esquerda. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

As basílicas compõem as principais estruturas dos fóruns. Funcionavam como tribunais de justiça, bibliotecas e locais de reuniões do Estado. Será, futuramente, a estrutura adotada pelo catolicismo como local do culto cristão. Mais adiante veremos com maiores detalhes as basílicas romanas e sua persistência na arquitetura, da Idade Média aos dias de hoje.

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Fórum Romano. Fundações da Basílica Julia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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