O bronze era um dos materiais preferidos para a confecção de diversos objetos e figuras, sejam eles utilitários, religiosos ou decorativos. Como dominavam com maestria a arte da metalurgia, os etruscos atingiram um alto nível de sofisticação técnica e estética tornando-os conhecidos em todo o Mediterrâneo e no norte. Utilizaram técnicas como a cera perdida, cinzelamento, incisão e laminação. Foram capazes de agregar outros metais ao bronze, como ouro, cobre e prata. O retrato de Bruto Capitolino é, ao lado da Loba Capitolina[1], sem dúvida, um dos maiores exemplos da capacidade escultórica etrusca. No Museu de Villa Giulia destacam-se os castiçais, tripés, espelhos e estatuetas.
Busto de Brutus Capitolino. 300-275 a.C. Bronze, 69 cm. Museus Capitolinos, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Loba Capitolina. Bronze. Museus Capitolinos, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Castiçais e tripé de bronze. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Cista Ficoroni, de Palestrina, com figuras dos Argonautas. Bronze. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Estas pequenas estatuetas representam deuses diversos, atletas e guerreiros, não sendo difícil encontrar na região da atual Toscana artesanatos finos que reproduzem essas belas peças.
Estatuetas de bronze. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
[1] Existem dúvidas sobre a origem da Loba Capitolina, porém a tradição a atribui a Vulca de Veios. Rômulo e Remo foram adicionados posteriormente, durante o Renascimento.
Acredita-se que a posição social das mulheres etruscas era superior às mulheres gregas e latinas. A escultura tumular, assim como a pintura em túmulos, evidencia essa posição privilegiada. O sarcófago etrusco de Cerveteri, c. 520 a.C., um dos mais belos exemplos da arte tumular, apresenta as características estilísticas arcaicas dos etruscos, assemelhando-se em muitos pontos com a escultura do período arcaico grego (650 a 480 a.C.).
Detalhes do Sarcófago etrusco de Cerveteri, 520 a.C., Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Detalhes do Sarcófago etrusco de Cerveteri, 520 a.C., Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Vídeo relacionado:
Sarcófago etrusco de senhora etrusca. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Vulca, o grande escultor natural de Veios, foi o único cujo nome foi registrado pela história. Trabalhou em Roma no tempo de Tarquínio, o Soberbo, o último rei de Roma. Suas obras, incluindo uma famosa imagem de Júpiter, adornavam o templo de Jupiter Optimus Maximus no monte do Capitólio. Atualmente, os alicerces do templo estão em exposição nos interiores dos Museus Capitolinos.
Maquete da Roma Antiga, nos Museus Capitolinos, nos tempos da monarquia. À esquerda vemos o grande templo de Jupiter Optimus Maximus, no Monte Capitolino, e à direita o Monte Palatino. Abaixo do Capitolino, o Fórum Boário. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Atribuídos a Vulca, o grupo de Apolo de Veios, com Hércules e Latona, do século VI a.C., apresenta influências gregas arcaicas, porém com um movimento vivo e elegante estranho ao período arcaico grego, de natureza estática. Formavam um grupo dramático representando a disputa de Apolo com Hércules pela corça sagrada, na presença de outras divindades. A estátua de Apolo tinha a face vermelha, e se tornou tão famosa entre os romanos que desde então todos os generais, ao entrarem em triunfo na cidade, depois de alguma vitória militar, também pintavam o rosto daquela cor. Vulca foi descrito por Plínio, que disse que suas estátuas eram as mais belas de seu tempo.
Atribuído a Vulca: Apolo move-se em direção à Hercules na disputa para a posse da corça com os chifres de ouro, sagrado para sua irmã Diana. A estátua localizava-se no cume do telhado. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Atribuído a Vulca: Latona com o pequeno Apolo nos braços fugindo da serpete Piton. Terracota policromada. 510-550 a.C. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Latona era uma titânide, filha de Febe e Céos, e mãe de Apolo e Diana, e sua iconografia a apresenta protegendo os seus filhos, por causa da serpente Píton. Foi uma das amantes de Júpiter, com quem teve os gêmeos. Era a titã do anoitecer, deusa da maternidade e protetora das crianças. Sua iconografia sugere que ela também era uma deusa da modéstia. Quando engravidou, teve que fugir da ira de Juno, mulher de Júpiter, que tinha pedido a Gaia que não cedesse lugar na terra para que ela pudesse dar à luz seus filhos. Para dar a luz às crianças na ilha de Delos, seu refúgio, ela teve que fugir da serpente Píton, que Apolo enfrentaria mais tarde.
Centauro de Vulci. 580 a.C. Esculturas em terracota. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Jovem cavalgando um monstro marinho, parte de decoração de um templo de Vulci. Esculturas em terracota. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Quando os etruscos entram em contato com o “estilo internacional” helênico grego, as esculturas adquirem feições cosmopolitas, afastando-se do arcaísmo tradicional, visto nas figuras de Apolo e Latona, atribuídas a Vulca. Floresce a tradição de retratos heroicos e mitológicos replicados e disseminados através da circulação de modelos, ampliando os trabalhos em série, seja a partir dos moldes ou dos modelos.
Fragmentos de terracota do período helenístico. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Busto de Apolo em terracota do período helenístico, ao estilo de Alexandre, o Grande, de Lisipo. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Entre os curiosos objetos ritualísticos em terracota, destacam-se os órgãos sexuais, como úteros, vaginas, falos e seios.
Placas de terracota em forma de útero. A de número 45 é dedicada a Vei-Demetra. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Vaginas de terracota votivas. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Mamilo e falo de terracota votivos. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
As pinturas parietais tumulares revelam cenas do cotidiano, cenas de amor, afeto entre os casais, ideais aristocráticos e cenas ritualísticas, muito próximas da tradição de pintura grega. Em Tarquínia, encontra-se a Tumba das Leoas, com cenas de dança e celebração do vinho. A importância da pintura etrusca está também no fato de que, além da própria história etrusca, revela elementos da pintura grega que pouco sobraram e que nos restam pouquíssimos vestígios atuais, comparados às grandes quantidades de pinturas em cerâmicas conhecidas nos dias de hoje. As obras artísticas funerárias apresentam cenas de banquetes, jogos, danças, batalhas, deuses, demônios e gênios, com influencias do cânone egípcio, porém com a presença do movimento grego.
Pinturas nos túmulos sustentam a tese de que os jogos de gladiadores, ícones da Roma antiga, nasceram na Etrúria, como vistos em algumas tumbas de Tarquinia. Encontram-se também imagens de Jogos Olímpicos, algumas com traços de grande violência, como a de um cão que ataca um homem com a cabeça coberta por um saco, o que poderia relacionar a origem dos jogos gladiatórios e circos a rituais fúnebres. Portas do inferno, o barqueiro Caronte e demônios eram representos com frequência em pinturas nas tumbas de Tarquínia.
Os etruscos construíam suas cidades para os vivos, mas também resistentes necrópoles em tufo (pedra vulcânica) para os mortos. As áreas mais emblemáticas da arte e arquitetura tumulares etruscas estão em Cerveteri, Tarquinia, Veios, Vetulonia e Vulci. Essas cidades possuíam vários cemitérios, cada um vinculado ao seu próprio uso, configurando verdadeiras necrópoles. De forma a potencializar a conservação das tumbas, foram construídas com material não-perecível, de pedra ou esculpidas diretamente na rocha. Os túmulos destinavam-se principalmente ao costume, posterior ao período de cremações, de enterrar os corpos em urnas, cercadas por círculos de pedras, que viriam a se transformar em abóbadas sobre tambores de pedra envoltas de terra (tholos micênico e grego), adicionando-se uma entrada em dromos (médio ou longo corredor). A inumação e preservação dos corpos podia contar com uma escultura em tamanho natural, ou próximo do natural, do morto ou do casal que ali estivesse enterrado.
Os túmulos abobadados e escavados nas rochas apresentam as mais belas obras artísticas preservadas dos etruscos. Elas evidenciam a certeza na sobrevivência da alma e a consciência de que o defunto necessitava de bens e de lembranças dos vivos. Esses princípios religiosos se assemelham às tradições egípcias, orientais e helênicas. No interior, aos mortos era garantido um ambiente familiar com os objetos possuídos na vida, ou uma réplica artística dos mesmos. Os túmulos mais suntuosos são réplicas de residências que existiam, proporcionando aos estudiosos uma rica projeção da arquitetura e interiores etruscos. Pode-se contemplar colunas, pilares, capitéis, vigas, mobiliários e instrumentos de pedra emulando a arquitetura em madeira e objetos de diversas texturas e materiais. Os cemitérios eram geralmente situados fora dos muros da cidade, ao longo das vias de acesso, outra herança legada à civilização romana. O tamanho dos túmulos e suas divisões em câmaras era proporcional à riqueza da família.
Na Itália, nos grandes museus, não é incomum encontrar fragmentos de antigos templos etruscos. As tipologias dos templos etruscos provem da segunda metade do período arcaico, por volta do século VI a.C. Como um templo grego, seu espaço era dedicado ao culto e preservação da estatuaria e de paramentos ritualísticos. Porém, os etruscos desenvolveram o tipo de planta com três cellas, antecedido pelo grande pórtico, ou pronaus, como visto nos templos da Tríade Capitolina (Júpiter, Juno e Minerva, para os romanos; Zeus, Hera e Atena, para os gregos). As tipologias templárias etruscas, junto às gregas, formam os fundamentos dos desenhos dos futuros templos romanos. Em Roma, o grande templo etrusco nos primórdios da cidade foi o templo da Tríade Capitolina de Jupiter Optimus Maximus, no Monte Capitolino, ornamentado pelo escultor etrusco Vulca, o mais famoso de todos os escultores do período. Templos mais simples possuíam apenas uma cella, que podia ou não conter colunas na fachada frontal. Algumas plantas apresentam a alae, ou seja, cellas com função de corredores laterais. No santuário de Portonaccio, em Veios, do templo de Apolo possuia três cellas, com magníficas esculturas acroteriais, preservadas no Museu Nacional Etrusco de Villa Giulia, em Roma, incluindo a icônica escultura de Apolo de Veios.
Reconstituição de templo etrusco em um totem informativo. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Podium e embasamento elevados de pedra foram introduzidos pelos etruscos e não eram comuns na arquitetura grega. Sua função era elevar o templo sobre o nível do calçamento, forçando a entrada das pessoas ao mesmo pela escada da fachada frontal. Os gregos, por sua vez, adotavam a estereóbata e estilóbata como plataformas de seus templos. O alto podium era, em geral, decorado com molduras. Eles desenvolveram uma nova ordem arquitetônica, semelhante à ordem dórica grega, chamada de Ordem Toscana.
Ordem toscana das colunatas de Bernini, no Vaticano. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Os templos, por serem de madeira, além das bases de pedra, não se salvaram como os templos de pedra ou de concreto romano. A ornamentação de telhados e beirais era produzida em terracota, como vemos nos acrotérios, baseados em máscaras de figuras religiosas-mitológicas e ornamentações vegetais, como palmetas. O Museu de Villa Giulia possui em seu acervo preciosos elementos estruturais e ornamentais de templos etruscos. Desenvolveram, para a criação de peças em série, moldes que replicavam as estátuas acroteriais e os revestimentos ornamentais dos edifícios. Entretanto, ajustes eram realizados em cada peça, retirando suas imperfeições de fabricação, dando a cada peça um carácter único.
Acrotérios em terracota. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Fragmentos do templo de Scasato. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Fragmentos do templo de Sassi Caduti. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Fragmentos de frontão, com figuras de deuses e personagens míticos (Atena, Zeus, Polifonte, Capaneo, Tideo e Melanippo). Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
No jardim da Villa Giulia podemos observar a reconstrução em tamanho natural do templo etrusco-Itálico de Alatri. A estrutura foi construída entre 1889 e 1890, com base nos restos de um edifício sagrado, datado dos séculos III e II a.C. O templo é constituído de uma cella com pronaos na fachada frontal. Parte dos ricos fragmentos de decoração de terracota adornavam o entablamento e os beirais da empena (frontão).
Templo Etrusco de Alatri. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Nos Museus Capitolinos, em Roma, estão fragmentos do templo etrusco de Mater Matuta, iniciado no século VII a.C., nos pés do Monte Capitolino, perto do Fórum Boário. Possuía uma estrutura tradicional etrusca, com revestimentos ornamentais em terracota, uma das mais antigas edificações encontradas em Roma. O edifício sofreu modificações, inclusive pelo rei etrusco Sérvio Túlio, no século VI a.C. Foi modificado para a construção de dois templos, de Fortuna e Mater Matuta, após a expulsão dos etruscos. Os seus achados, que incluem diversos objetos cerimoniais, imagens e utilitários, estão expostos nos Museus Capitolinos.
Fragmentos do templo etrusco de Mater Matuta. Museus Capitolinos, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Nos primórdios, as aldeias etruscas eram compostas de cabanas de partido retangular ou ovalado. A principal fonte arqueológica sobre a arquitetura etrusca concentra-se nos adornados túmulos, como veremos mais adiante. Os gregos influenciaram sua arquitetura a partir do período orientalizante, no século VII a.C., introduzindo os telhados de terracota, relatado por Plínio na sua obra História Natural. Eram utilizados diversos elementos de terracota, como relevos, acrotérios e pináculos modelados e pintados com motivos do repertório grego. Com o passar do tempo, artesãos especializados desenvolveram diferentes técnicas, capazes de produzir complexos moldes, reproduzindo em larga escala os ornamentos e demais peças artísticas e arquitetônicas.
As residências etruscas, como mostram as escavações de Acquarossa, até o final do século VII a.C., evidenciam tipos de uso doméstico para as classes mais altas. Em geral, a planta de uma casa possuía um pátio central, que evoluiu para a domus italica dos romanos, descrita por Vitrúvio no Tratado de Arquitetura. Sobre a domus italica, veremos com maior profundidade no texto sobre Pompeia.
Ruínas templárias de Marzabotto e planta do sítio arqueológico. Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Marzabotto. Acesso em: 10 jan. 2017.
Os etruscos legaram um traçado ortogonal planejado, desde o século VI a.C., conforme visto na cidade de Marzabotto, concebida em dois eixos perpendiculares ritualmente desenhados. O desenho centrado a partir de duas ou mais ruas principais perpendiculares, como a planta milésia ou rodiana helenística, de Hipódamo de Mileto ou Dinócrates, era aplicado na Grécia e suas colônias pelo Mediterrâneo. A cidade com traçado ortogonal, com duas ruas principais, em cruz, provavelmente inicia a tradição do cardus e decumanus romano. O costume de adotar acrópoles como centros religiosos também era comum na Etrúria. Estes princípios revelam a existência de um governo centralizado capaz de planejar o desenvolvimento dos centros com maior organização urbana. Com o tempo, praticamente todas as cidades de Etrúria foram equipadas com muros defensivos e, eventualmente, com portas em arcos monumentais, como vistas em dias atuais em Volterra e Perugia.
As cidades e a arquitetura etrusca são fundamentalmente influenciadas pela Magna Grécia e, em menor escala, pela Assíria, Egito e Fenícia, vistas na engenharia, como aquedutos, esgotos, portos, indústria e comércio. O arco, a abóbada e a cúpula são introduzidas na península itálica, tornando-se as grandes contribuições etruscas que impulsionarão a arquitetura, engenharia e estética romana no futuro. A Porta Augusta, em Perugia, é um dos primeiros exemplos da introdução do arco em escala monumental no vocabulário das ordens clássicas. O arco de triunfo romano, por exemplo, é derivado das portas etruscas. A Cloaca Máxima, o grande esgoto que possibilitou a construção e drenagem do Fórum Romano, foi desenvolvida por engenheiros etruscos durante o domínio desses em Roma, no período da Monarquia.
Cloaca Maxima, no Fórum Boário, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2019.
Por volta de 800 a 600 a.C., quando a Grécia emergia no período arcaico e viria a se expandir como a Magna Grécia pelo Mediterrâneo, a península itálica possuía diferentes níveis de civilização; algumas ainda na Idade do Bronze, e outras na Idade do Ferro, como o mundo grego, mais evoluído tecnologicamente. Entre os povos que habitavam a Itália pré-ariana estavam os Lígures e os Sículos. A Cultura Villanoviana, de origem nórdica e obscura, introduz o ferro por volta de 800 a.C., conquistando a Etrúria e a Ùmbria. Nesse período, desenvolvem-se as línguas itálicas, como o latim, o osco e o úmbrio. Semelhante aos períodos gregos, os períodos históricos etruscos são divididos em villanoviano, orientalizante, arcaico, clássico e helenístico.
Etrusco é um nome latino derivado de Etrusci ou Tusci, de onde se origina a palavra Toscana. Já os gregos os denominaram Tyrrhenoi, originado do Mar Tirreno, na costa ocidental da Itália, enquanto a costa oriental é banhada pelo Mar Adriático, assim chamado por causa do porto de Adria, uma das cidades etruscas. Estabeleceram-se entre 1.200 e 700 a.C., ocupando os territórios ao norte da Itália, na região entre os rios Arno e Tibre, atual Toscana, estendido para partes da Úmbria e Lácio. Heródoto, o famoso historiador grego, comenta as prováveis origens orientalistas desse povo, vindos do mar, da Lídia (atual Turquia). Os gregos e romanos deixaram poucas informações sobre os etruscos. Os romanos relatam que os etruscos eram demasiadamente supersticiosos, cujas crenças foram transmitidas aos próprios. O alfabeto etrusco ainda não foi decifrado, sendo parecido e originado do grego e do fenício. Foram aliados dos cartagineses e rivais comerciais das colônias gregas na Itália, como Nápoles e Cuma. Com os gregos, desenvolveram um rico comércio, como provam as cerâmicas e obras artísticas de origem e influência helênica em solo etrusco, ao mesmo tempo que ambos praticavam a pirataria entre si. A Etrúria era governada por uma liga de cidades-estados, como Arezzo, Cápua, Chiusi, Cortona, Fescência, Orvieto, Perugia, Tarquínia, Todi, Veios, Volterra e Vulci.
Vitrine com cerâmicas etruscas. Museu Nacional Etrusco de Villa Giulia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Os etruscos eram hábeis metalúrgicos e possuíam vastas jazidas de ferro, cobre e estanho, como as jazidas de ferro da ilha de Elba. Usavam armamentos de ferro, e possivelmente aprenderam as técnicas metalúrgicas com a obscura cultura Villanoviana. As ferramentas de metais desenvolveram a agricultura, incrementando o uso do arado, além da introdução de ferramentas domésticas e de armamentos bélicos. O calendário broncoscópico etrusco era dividido em 12 meses com 29 dias, aproximadamente.
A posição social das mulheres etruscas ainda permanece um mistério, mas acredita-se que gozavam de posição social superior às mulheres gregas e latinas, o que causava severas críticas em relação à promiscuidade sexual por parte dos etruscos. Diziam os gregos que os etruscos conheciam suas mães, mas desconheciam seus pais. O historiador grego Teopompo atribuiu aos etruscos excessos exaltados em meio a todos os prazeres imagináveis, incluindo atos sexuais em público e orgias. Poderiam ser boatos e formas preconceituosas do ponto de vista grego, já que as mulheres gregas não desempenhavam papéis junto às todas as atividades dos homens, inclusive nos jogos esportivos. A arte tumular evidencia a posição das mulheres próxima à dos homens, já que suas figuras as colocam em pé de igualdade na representação artística, fato incomum no período entre as civilizações vizinhas. As mulheres etruscas tinham seu próprio nome, enquanto as romanas herdavam o nome do pai. No Museu Nacional de Villa Giulia, em Roma, o sarcófago etrusco de Cerveteri, c. 520 a.C., é um dos mais belos exemplos da arte tumular e evidencia uma participação efetiva das mulheres nos banquetes e na vida pública etrusca.
Sarcófago etrusco de Cerveteri, 520 a.C., Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
As superstições e auspícios eram parte integrante e fundamental do cotidiano etrusco. O Fígado de Placência, artefato encontrado em 1877, na província de Placência, Itália, data do século II-III a.C. É uma peça de bronze, em tamanho natural, de um fígado de carneiro dividido em partes com escrita etrusca. Os escritos se referem a deidades etruscas e serviam como ferramenta para os sacerdotes praticarem auspícios e adivinhações. Tratava-se de uma arte divinatória que consistia no exame das vísceras (sobretudo fígado e intestino) de animais sacrificados para observar sinais divinos e normas sociais. Este costume foi herdado pelos romanos, que os levavam com muita seriedade.
Tages é o garoto semideus nascido da terra, encontrado por um lavrador, que ensinou aos etruscos a aruspicina, isto é, a arte dos sacerdotes arúspices. Seu aspecto era de criança, mas sua sabedoria a de um velho profete ancião. Quando uma multidão estava à sua volta, Tages explicou a todos a arte da profecia.
Figuras de crianças (Tages). Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Declínio e legado
A decadência dos etruscos ocorre a partir do século V a.C., devido aos ataques romanos, gregos e celtas. Por fim, os romanos, fagocitam os etruscos por completo. Entre os legados dos etruscos aos romanos e a outros povos, encontram-se:
Política: transmissão de instituições à Roma, como a coroa de ouro, a sella curulis (magistratura), o medalhão de ouro chamado aurea bulla, os fasci dos litores, o manto vermelho dos imperadores, o anel de ouro dos cavaleiros, as cerimônias do triunfo romano, a procissão que conduzia solenemente a quadriga com o general vencedor ao capitólio.
Militar: Roma conservou muitas instituições etruscas: organização em centúrias para fins militares, jogos gladiatórios, triunfos cívicos e leitura de augúrios (vísceras de animais para prever o futuro).
Metais: técnicas de ourivesaria e fundição transmitidos aos gauleses.
Agricultura: canais, técnicas agrícolas de dividir o solo, introdução do vinho na atual França.
Artes e arquitetura: retratos mortuários dos ancestrais, templos, residências, arcos, abóbadas, circos e espetáculos teatrais (Tarquínio Prisco construiu o primeiro Circo Máximo).
Língua: parte do vocabulário em latim e nomes próprios. Ensinaram os romanos a ler e escrever, além de desenvolverem os números romanos.
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O Museu Nacional Etrusco de Villa Giulia é o mais importante museu da civilização etrusca, que inclui não somente objetos etruscos, mas também objetos da Magna Grécia, devido ao intenso comércio e influencia que os helênicos tiveram sobre os etruscos. O museu nasceu em 1889 por iniciativa de Felice Barnabei (1842-1922), arqueólogo e político italiano, com base em um programa de explorações arqueológicas.
Museu Nacional Etrusco de Villa Giulia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Villa Giulia foi construída pelo Papa Júlio III, nos anos de seu pontificado entre 1550 e 1555. É um exemplo admirável de uma villa suburbana renascentista. Como na Antiguidade, o edifício residencial de tamanho relativamente modesto, era inseparável do jardim concebido arquitetonicamente, com terraços ligados por escadas majestosas e fontes adornadas com esculturas mitológicas. A Villa é articulada em uma série de três pátios que se desenvolvem em profundidade.
Museu Nacional Etrusco de Villa Giulia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Maquete de Villa Giulia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
A ornamentação contou com a presença dos maiores artistas da época: o pintor, arquiteto e historiador da arte Giorgio Vasari, o arquiteto Jacopo Barozzi da Vignola e o escultor florentino e arquiteto Bartolomeo Ammannati, Peter Venale de Imola e Taddeo Zuccari. A decoração é composta com afrescos parcialmente preservados, como vistos no pórtico semicircular.
Afrescos do pórtico semicircular de Villa Giulia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Um elemento de encanto característico da Villa é o nymphaeum, uma fonte ricamente decorada, que segundo website[1] oficial da Villa, manifesta o primeiro “teatro das águas” de Roma.
Ninfeu de Villa Giulia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Em 1912, como parte de uma nova área urbana circundante, o edifício foi concluído, a partir do início de uma longa nova ala ao lado do edifício histórico, sendo acrescentado uma segunda ala simetricamente disposta, concluída em 1923. No jardim, podemos observar a reconstrução em tamanho natural do templo etrusco-Itálico de Alatri. A estrutura foi construída entre 1889 e 1890, com base nos restos de um edifício sagrado, datado dos séculos III e II a.C. O templo é constituído de uma cella com pronaos na fachada frontal. Parte dos ricos fragmentos de decoração de terracota adornavam o entablamento e os beirais da empena (frontão). A proposta de reconstrução constitui, para o museu, um dos mais antigos testes ao ar livre de um complexo arqueológico.
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Templo Etrusco de Villa Giulia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
As coleções do museu compõe-se de uma série de materiais encontrados na Etrúria, Úmbria e no Lazio, principalmente. Os grandes trabalhos de escavação realizados na primeira metade do século XX, em especial em Veios e Cerveteri, mudaram significativamente a aparência do museu, acentuando a caracterização etrusca. Para o viajante que vai à Roma, é fundamental uma visita a este museu.
Vistas internas de Villa Giulia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.