Domus italica em Pompeia

Por Marcelo Albuquerque

Como vimos anteriormente (ver Domus italica), as casas romanas eram mais que um mero abrigo para o corpo físico; era o ponto de encontro da família e o centro das cerimonias religiosas mais intimas. De origem etrusca, as casas ou domus eram o tipo de habitação mais comum entre a nobreza e os endinheirados romanos, construídas com nobres e resistentes materiais. As domus mais bem preservadas estão nos sítios arqueológicos de Pompeia e Herculano, e parte considerável dessas residências continua sendo escavada em Pompeia. A seguir veremos algumas domus que são abertas à visitação do público, porém eventualmente algumas permanecem fechadas para trabalhos de restauração.

A domus italica, em geral, possui uma configuração básica que se repete independentemente da extensão da casa, composta pelo fauces, átrio, cubículos, alas, tablinum, triclínio, cozinha e latrina. Quanto mais posses e riquezas tiver o senhor da casa, maior a casa, e esta poderia agregar e repetir essas estruturas, bem como agregar jardins internos, externos e peristilos, além de andares superiores e mezaninos.

Pompeia domus italica variacoes.gif

Domus italica: Variações. Adaptado por Marcelo Albuquerque.

De maior grandiosidade, a Casa do Fauno é nomeada assim por causa da estátua em bronze de um fauno dançando encontrada no local, cuja réplica se localiza atualmente no centro do impluvium. É um belo exemplo do resultado da fusão dos modelos arquitetônicos da casa Itálica centrada em torno do átrio e o helenístico peristilo de habitação. Ocupa uma insula inteira, ou seja, como um bloco inteiro de quarteirão moderno. As insulas podem significar tanto este tipo quarteirão, como uma espécie de edifício de apartamentos da Roma Antiga. O mosaico no piso da exedra apresenta uma cópia de A Batalha de Issus, entre Alexandre e Dario, enquanto o mosaico original encontra-se no Museu de Nápoles (ver Mosaicos e trabalhos finos em pedra). Acredita-se que o mosaico de Pompeia seja uma cópia de um original grego helenístico perdido. O mosaico é uma reprodução de uma pintura feita na vida de Alexandre, ou logo após sua morte, possivelmente por Philoxenus ou Eretria. A Casa do Fauno possui um grande peristilo de ordem dórica, na qual é possível contemplar as belas colunas de alvenaria revestidas de estuque no estilo helenístico.

Pompeia casa do fauno.gif

Planta da Casa do Fauno. Fonte: adaptado de AD79 por Marcelo Albuquerque. Disponível em: https://sites.google.com/site/ad79eruption/pompeii/regio-vi/reg-vi-ins-12/house-of-the-faun. Acesso em: 17 set. 2016.

SAM_2926.JPG

Casa do Fauno: pórtico de entrada ornado com pilares de capitéis coríntios e imponente entablamento e cornija. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

SAMSUNG CAMERA PICTURES

Casa do Fauno: fauces (vestíbulo) com elementos ornamentais, lararium com cornija e pinturas no primeiro estilo. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

SAMSUNG CAMERA PICTURES

Casa do Fauno: átrio e impluvium com a réplica da escultura original do fauno. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Casa do Fauno: réplica da escultura original do fauno. O original encontra-se no Museu de Nápoles. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

SAM_2949.JPG

Casa do Fauno: primeiro peristilo. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

SAM_2940.JPG

Casa do Fauno: segundo peristilo. Novamente, nesta imagem vê-se claramente as tecnologias de construção romanas em alvenaria e estuques ornamentais, emulando caneluras de colunas de mármore grego. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

SAMSUNG CAMERA PICTURES

Casa do Fauno: elementos construtivos do segundo peristilo. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Continue a leitura adquirindo o livro ou e-book completo.

Tecnologias de construção romanas

Por Marcelo Albuquerque

Apreciar e conhecer a arquitetura da Roma Antiga implica na distinção das diversas técnicas de construção dos romanos, em especial as relacionadas ao concreto pozolana. As técnicas podem ser usadas independentemente umas das outras, ou mescladas em um único edifício.

Na antiga Grécia, os templos eram construídos com blocos de pedras justapostas e encaixadas entre si, sem argamassa, com extrema precisão, devidamente pré-fabricados ou adaptados direto na construção, como ocorre no Parthenon. Podiam receber grampos de metal (cavilhas), chamados de “gatos, tecnologia que ficará na engenharia até os dias de hoje, comum nas cidades coloniais brasileiras, como Ouro Preto. Os gatos do Coliseu, por exemplo, foram retirados durante a Idade Média para serem reaproveitados para diversos fins, deixando lacunas e buracos visíveis na alvenaria (ver Coliseu). Em Roma, o uso do concreto e da alvenaria substitui em grande parte o uso de blocos de pedra.

Na Grécia, as colunas raramente são monolíticas, constituindo-se de tambores separados e encaixados com precisão. Após a montagem dos tambores, vinha o trabalho de acabamento das caneluras. Em Roma, boa parte das colunas em estilo grego eram construídas de alvenaria e concreto, sendo revestidas com estuque, de forma a imitar o mármore grego e suas caneluras, como vemos na imagem a seguir do grande peristilo da Casa do Fauno, em Pompeia.

SAMSUNG CAMERA PICTURES

Peristilo da Casa do Fauno, em Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

No campo das tecnologias de construção, o concreto romano (opus caementicium, conhecido como “pozolana”, permitia construções sólidas embaixo d’água, como pontes e grandes alicerces. Seu nome deriva-se de Pozzuoli, cidade perto de Nápoles, de onde se extraiam as cinzas vulcânicas do Vesúvio. Os gregos conheciam o concreto, mas apenas aplicavam em estruturas subterrâneas, eventualmente. A adoção do concreto pozolana data do século III ao II a.C. sendo um ponto de convergência na arquitetura romana, permitindo o desenvolvimento na concepção de grandes espaços e vãos, maiores alturas, monumentalidade e variações plásticas aplicadas às ordens arquitetônicas. Vitrúvio descreve sua receita em seu tratado de arquitetura, no Livro II. Era composta basicamente com cal hidratada, compostos de silício, alumínio, oxido de ferro e cinzas vulcânicas. Podia ter pedaços de tufa e cacos de cerâmica. Comparado aos concretos modernos, como o cimento Portland, o concreto pozolana requer menos energia para a cura.

A mistura era feita na própria obra, através de formas. O uso de formas e moldes formava a estrutura interna da parede, que depois recebia o acabamento externo mais nobre, geralmente, como pode ser observado nas grandiosas cúpulas romanas (ver O Panteão). A Ponte Emília ou Ponte Partida (Ponte Rotto) é a mais antiga ponte em arco construída em pedra e concreto em Roma, do século II. Ela atravessava o rio Tibre, ligando o Fórum Boário ao bairro de Trastevere (ver Aquedutos e pontes). Dentre os diversos tipos utilizados na Roma Antiga, destacam-se:

Opus caementicium: consiste na construção de espessas paredes de concreto e fragmentos de pedras e cerâmicas, base para as demais construções em concreto dos romanos. Em geral, a estrutura era revestida para acabamentos estéticos, com aplicação de estuques, pinturas, afrescos e mosaicos.

SAM_2962.JPG

Opus caementicium com revestimento de estuque decorado, nas abóbadas das termas de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

SAM_4945.JPG

Opus caementicium formando o núcleo da estrutura, revestida de opus reticulatum na parte superior e opus testaceum na inferior. Villa Adriana, Tivoli. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Opus incertum: consiste de revestimento ou núcleo de pedras de formas irregulares, sendo uma das mais antigas formas de construção. Costuma ser confundido com o opus caementicium por causa de sua aparência. De acordo com Cunha, na maioria das vezes os revestimentos são colocados de forma que a face lisa das pedras se sobressaiam, formando uma superfície plana, sem pontas quebradas aparentes. As obras mais rústicas podiam receber uma argamassa para cobrir as imperfeições.

SAM_1389.JPG

Opus incertum do criptopórtico do Templo de Vênus e Roma, em frente ao Coliseu, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

SAM_1876.JPG

Continue a leitura adquirindo o livro ou e-book completo.