História da arte, arquitetura e cidades: ensino e aprendizagem através da Sala de Aula Invertida

Palestra: História da Arte, Arquitetura e Cidades: Ensino e Aprendizagem Através da Sala de Aula Invertida
com Marcelo Albuquerque Corrêa

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Resumo estendido

A metodologia de ensino/aprendizagem apresentada aqui foi desenvolvida para esta disciplina, muito complexa e extensa, que percorre toda a história da arte, arquitetura e cidades, desde a pré-história aos dias de hoje, não sendo, portanto, fácil de se condensar em apenas dois semestres. Por isso, tomei a iniciativa de observar as propostas pedagógicas do Alinhamento Construtivo de John Biggs, elegendo a metodologia Flipped Classroom (Sala de Aula Invertida), de Bergmann e Sams, como as principais práticas com conteúdos autorais e de terceiros, seguida das metodologias ativas. O Alinhamento Construtivo, segundo Biggs, oferece uma reflexão e tomada de atitude para o aprimoramento das relações entre professores, alunos e sociedade, partindo de uma estruturação de atividades que apresentem sentidos práticos e reais, evidenciando ao aluno a importância de determinada disciplina e seus conteúdos para o curso em si e para a vida profissional e social na realidade. Partindo da realidade direta e da experiência no cotidiano, esta disciplina visa os três pontos fundamentais que Biggs aponta, interconectados: métodos de ensino, formas de avaliação e resultados de aprendizagem. Metodologias ativas compreendem o envolvimento consciente e ativo por parte do aluno como responsável pela sua própria educação, ou seja, que para adquirir competência, conhecimento e habilidade é necessário desprendimento de energia e dedicação, ao invés de esperar pelo recebimento passivo de instruções e informações. Para tanto, foi observado um pequeno panorama histórico que remete às tradições da pedagogia ativa como precursora de determinadas práticas contemporâneas. Nela destaco a figura de John Dewey, fundamental para o desenvolvimento acadêmico das artes, arquitetura e design no século XX. Para os pragmatistas e para Dewey, tanto o conhecimento acumulado historicamente como a experiência sensível são normas de ação, e para a educação, fundamentos pedagógicos de uma escola ativa. Este artigo apresenta a multiplicidade de reflexões sobre métodos e teorias propostas e aplicadas na realidade durante os anos de 2018 e 2019 no curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário UNA na região metropolitana de Belo Horizonte. Porém, o que está envolvido aqui não é um método particular, conforme será descrito, mas uma atitude em relação ao ensino, o que implica uma consciência focal do aluno e do mundo do aprendiz, onde o professor aborda os princípios e apropria-se deles no contexto de sua própria atividade.

Palavras-chave: Alinhamento Construtivo, História da Arte, História da Arquitetura, Sala de aula invertida.

A Paris de Haussmann

Os textos e as imagens (fotografias, obras de arte e ilustrações) do autor estão protegidas pelas leis de direitos autorais – Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste website poderá ser reproduzida ou transmitida para fins comerciais, sem prévia autorização por escrito do detentor dos direitos. Ao citar este website em demais pesquisas acadêmicas, gentileza observar as instruções acima “Como citar artigos deste website – Exemplo”. Para maiores informações, envie e-mail para: historiaartearquitetura@outlook.com, ou acesse CONTATO.

Por Marcelo Albuquerque

A cidade de Paris foi uma cidade labiríntica de agitadas ruas medievais com traçado urbano que remonta aos tempos dos gauleses e romanos, quando ainda se chamava Lutécia. Ela teve seu traçado urbano remodelado completamente em meados do século XIX, durante o governo do imperador francês Napoleão III. Este nomeou, para seu chefe de departamento de Paris, George-Eugène Haussmann, o grande responsável pela reforma urbana. Haussmann era administrador público e não tinha formação em arquitetura ou planejamento urbano. Paris era uma cidade insalubre e malcheirosa em 1853, quando o imperador deu instruções a Haussmann para reconstruir a cidade com grandes avenidas e rede de esgoto. Para isso, regiões inteiras deveriam ser demolidas e requalificadas. O desejo de Napoleão III e Haussmann era fazer de Paris uma nova Roma. O antigo general governante que se fez imperador, Napoleão Bonaparte, tio de Napoleão III, havia iniciado a construção do Arco do Triunfo, depois da vitória em Austerlitz, em 1805, que se mantem como um dos símbolos mais famosos da França.

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Barão Haussmann. Fonte: Wikimedia Commons.

Dois fatores foram decisivos para dar começos às obras. O primeiro era evitar futuros levantes revolucionários, como os de 1827, 1849 e 1851, quando foram levantadas barricadas na cidade, e devido à reação armada da esquerda e dos operários contra o desejo de Napoleão III de continuar no poder, não mais como presidente eleito diretamente nas eleições da Segunda República, proclamada em 1848, mas como imperador dos franceses. As largas avenidas e boulevares tinham um objetivo importante dentro do contexto das revoluções do século XIX. As amplas vias permitiam que tropas do governo se movimentassem livremente para manter a ordem em tempos revolucionários, de forma a evitar as barricadas e demais distúrbios. Os exércitos e a polícia podiam posicionar suas artilharias de forma a conter as aglomerações que porventura pudessem ocorrer.

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Antiga rua Erfurth (Paris, 6º arrondissement, distrito de Saint-Germain) com uma das duas fontes de Childebert. Fotografia de Charles Marville, 1867. Fonte: Wikimedia Commons.

O outro fator foi uma segunda epidemia de cólera que resultou em dezenove mil vítimas aproximadamente. Com o traçado medieval da cidade, as casas eram amontoadas e insalubres, as ruas eram estreitas e os funestos sistemas de esgotos corriam muitas vezes a céu aberto, juntando-se a superpopulação do centro da cidade.  Essa insalubridade, revoltas e péssimas condições de vida foram tema da grande obra de Victor Hugo, Os Miseráveis.  Um pouco antes, como nos recorda Mumford, em A cidade na história, Londres já vinha promovendo investimentos públicos significativos em obras preventivas nas margens do rio Tamisa, que estavam putrefatas e contaminadas.

O plano incluía a demolição de cerca de dezenove mil prédios históricos e a construção de outros trinta e quatro mil novos, aproximadamente. As antigas ruas foram substituídas por amplas vias, de arquitetura eclética e neoclássica, em tons pastel, alinhados e dentro de proporções uniformizadas. Foram construídos grandes parques, um novo sistema de esgoto, um novo aqueduto para a água doce, rede de gás subterrâneo para iluminação pública e privada, fontes e banheiros públicos. Novas estações de trem foram construídas, bem como o ícone do ecletismo mundial, a Opera de Paris. As avenidas radiais, saindo do Arco do Triunfo, caracterizam o plano de Haussmann.

Paris e o Arco do Triunfo vistos da Torre Eiffel. Edifícios do Boulevard Raspail, com destaque para o hotel Lutetia, Paris. Fotos: Marcelo Albuquerque, 2019.

Haussmann transformou Paris em vinte anos, quando foi forçado a deixar o cargo em 1870. Seus projetos continuaram sendo seguidos até os anos 1920. Porém, Haussmann também foi criticado, pois demolira a Paris antiga e tradicional, não sendo poupado por críticos, jornalistas e desenhistas de sua época. Os projetos de Haussmann foram sem precedentes pelo fato de ter conseguido resultados com padrões elevados e uniformes em tão pouco tempo, dentro do contexto do ecletismo da segunda metade do século XIX. Até a própria casa em que nasceu fora demolida. O antigo casario foi posto abaixo e, em seu lugar, surgiram os amplos bulevares com novas construções padronizadas, em grande parte de estilo eclético, com serviços de esgoto, gás encanado e abastecimento de água tratada. A altura padrão não ultrapassava seis andares. Foram abertos espaços para os parques públicos e estações de trens dentro da cidade. Edifícios históricos importantes foram preservados, como as igrejas antigas. Uma das obras primas foi a construção da Ópera por Charles Garnier, inaugurada em 1875, um dos mais emblemáticos edifícios da arquitetura eclética francesa. Diversas cidades seguiram o modelo de Paris, como Buenos Aires, Rio de Janeiro, Nova York e Belo Horizonte.

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A demolição e destruição de muitas propriedades residenciais e bairros tradicionais foi inspiração para uma variedade de charges satíricas e políticas durante o Segundo Império, muitas das quais personificaram Paris como feminina. A caricatura de Edmont Morin enfatiza a natureza invasiva e destrutiva da equipe de demolição de Haussmann. Fonte: Wikimedia Commons.

Forma urbis

Por Marcelo Albuquerque

Forma Urbis, também conhecida como “Plano de mármore”, é uma planta da cidade de Roma criada na época da dinastia severiana, entre os anos de 193 a 235 d.C. (ver Dinastia Severiana). Foi concebido entre 203 e 211, sendo instalado no antigo Templo da Paz (ou Fórum da Paz) pelo imperador Vespasiano. As placas foram usadas como revestimento de parede de uma das salas do Templo de Paz.

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Templo da Paz, no Fórum Romano. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Forma urbis: fragmentos do Templo de Diana Cornificiana e do Templo de Minerva, 203-211 d.C., na colina do Aventino. Museus Capitolinos, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Castrum

Por Marcelo Albuquerque

castrum foi o acampamento, estável ou provisório, de uma unidade do exército romano, como uma legião, em terras distantes. Possuía a forma retangular com muralhas ou palhiçadas com um fosso cavado pelos experientes engenheiros e soldados romanos. O termo castrum pode ser aplicado para obras civis com fins de proteção e para fins militares, em relação aos acampamentos. Conhecidos pelas suas atitudes práticas, os romanos variavam pouco as formas de construção, assegurando um padrão e agilidade em qualquer parte do território. Encontrado o local adequado para estabelecer o castrum, eram erguidas as tendas dos comandantes e tribunos, seguidos dos acampamentos das legiões. Entre as cidades fundadas a partir de um castrum encontram-se Bologna, Brescia, Como, Florença, Turim e Vicenza.

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Porta Negra em Tréveris (Trier). Fonte: Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%A9veris. Acesso em: 12 set. 2016.

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Modelo da fortaleza legionária de Deva na Grã-Bretanha. Fonte: Wikipédia. Disponível em: https://it.wikipedia.org/wiki/Castrum. Acesso em: 12 set. 2016.

Entre as ruas internas de um castrum, estavam as duas mais importantes: a Cardo Maximus e a Decumanus Maximus, que se cruzam no pretório (pertencente ao comandante), conectada aos quatro portões do acampamento.  São consideradas também contribuições etruscas na engenharia urbana romana (ver A cidade Etrusca). Havia a possibilidade do cardo maximus e decumanus maximus não se encontrarem no centro da cidade, mas em uma posição mais lateral, como em Pompeia e Turim.

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Roma: cidades e fundamentos urbanos

Os textos e as imagens (fotografias, obras de arte e ilustrações) do autor estão protegidas pelas leis de direitos autorais – Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste website poderá ser reproduzida ou transmitida para fins comerciais, sem prévia autorização por escrito do detentor dos direitos. Ao citar este website em demais pesquisas acadêmicas, gentileza observar as instruções acima “Como citar artigos deste website – Exemplo”. Para maiores informações, envie e-mail para: historiaartearquitetura@outlook.com, ou acesse CONTATO.

Por Marcelo Albuquerque

Aqui pretendo traçar linhas gerais sobre a concepção de uma cidade romana criada praticamente do zero, a partir de assentamentos militares e com fins coloniais. A cidade de Roma não se enquadraria nesse contexto, por ter se formado em um período distante e com circunstâncias diferentes, como apresentado em Origens Míticas e Históricas. O desenho urbano[1] romano ainda se apresenta em muitas cidades europeias e do Mediterrâneo, como no norte da África e no Oriente Médio, preservando os desenhos originais e centros mais antigos. Como aponta Mumford, em A cidade na história, os romanos, segundo Varrão, realizavam ritos etruscos ao fundar novas cidades. Não começavam simplesmente com um augúrio, mas também com a demarcação dos contornos da cidade por um sacerdote que guiava a charrua. Dessa prática surgiu o pomerium, um cinturão sagrado dentro e fora da muralha, onde nenhum edifício podia ser edificado, representando os limites sagrados[2] (ver Palatino).

Os romanos privilegiavam uma cidade planejada ortogonalmente conectada pelas estradas pavimentadas, abastecida por aquedutos e rede de esgotos[3]. O planejamento seguia as tradições etruscas e gregas, especialmente as das cidades helenísticas. A cidade helenística, como aponta Mumford (1998), é equipada com sistema sanitário, possui ordenação geométrica e tende a uma estética unificada. A impressão estética é enaltecida com a adoção de longos eixos em perspectiva e monumentalidade. Hipódamo de Mileto (498-408 a.C.) foi um teórico da cidade grega, representante da antiga Escola Jônia. Hipódamo foi o introdutor de uma planificação apoiada em ruas largas que se cruzavam em ângulos retos, como um tabuleiro de xadrez. Já o traçado em tabuleiro das cidades planejadas era uma tradição da Jônia, desde o sec. VII, aplicado às colônias gregas que se espalhavam pelo mundo mediterrâneo e outras regiões interioranas. O desenho reticulado designava áreas distintas adequadas ao modo de vida e divisão de classes gregas, estabelecendo as áreas comerciais, residenciais e as ágoras planejadas. Foi o primeiro arquiteto grego conhecido a conceber um planejamento urbano e a estrutura de uma cidade a partir de um ponto de vista que privilegiava a funcionalidade.

As novas cidades eram planejadas como novas colônias, carecendo de fortificação e um bom sistema de defesa. As cidades, exceto Roma, possuem seu espaço dividido em quadrângulos regulares, baseados nos acampamentos militares chamados castrum (ver Castrum), cujo centro era denominado fórum. Dessa forma, o castrum era dividido em quatro partes, chamados distritos. Algumas cidades possuíam áreas sagradas elevadas, as acrópoles, segundo tradições itálicas e helenísticas. O esquema mais organizado era o baseado em dois eixos principais: o cardo maximus (norte-sul) e o decumanus maximus (leste-oeste), cuja interseção se encontravam os fóruns. Entretanto, algumas cidades, como Pompeia, possuíam dois ou mais fóruns secundários. A forma da cidade geralmente correspondia a um quadrado, mas poderia ser em um polígono desigual, como a cidade de Silchester na Grã-Bretanha[4]. Nos fóruns, como foi visto anteriormente, eram realizadas as principais reuniões políticas, legislativas, judiciais, comerciais e religiosas (ver Fórum Romano).

Mumford, em A cidade na história, aponta algumas características das cidades romanas. Hígeno, arquiteto romano, considerava o tamanho ideal de uma cidade romana planejada em 730 por 490 m., como Turim e Aosta, principalmente devido às estratégias de defesa e fortificação[5]. As cidades parecem ter sido planejadas para, no máximo, 50.000 habitantes. Podiam haver legislações sobre o tráfego intenso de carroças, com leis que proibiam o trânsito de dia, conforme decreto de Júlio César, banindo o tráfego de rodas durante o dia em Roma, causando um problema maior: o tráfego a noite, perturbando o sono dos cidadãos romanos. Sobre as cidades romanas, o autor comenta:

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Lucca romana. Adaptado do Google Earth. Marcelo Albuquerque, 2017.

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Livros e E-books de Marcelo Albuquerque

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