Palestra: Panorama da arte e arquitetura no século XX. Auditório da UNA, campus Contagem, dia 07/06/18, 19h.
Categoria: Arte contemporânea
A cor e o espaço
Por Marcelo Albuquerque
A cor e o espaço são associados com veemência na contemporaneidade, mas na cultura ocidental percebe-se uma tradição de longa data, como ocorreu nas catedrais medievais. A associação cor-espaço está fecunda nas artes plásticas e na arquitetura contemporânea, e as obras definidas como instalações representam efetivamente essa ideia. Basta recordamos a Teofania da luz medieval, vista anteriormente (Idade Média, Teologia e metafísica da cor). E o quanto podemos pensar na utilização da luz na arte contemporânea, com as novas tecnologias? James Turrell constrói obras que dependem do comportamento do olho humano, como afirma Gage[1]. O espectador encontra uma parede de luz colorida em um ambiente escuro, e a cor se forma de acordo com a progressão da adaptação visual do olho no ambiente. É possível traçar um paralelo de sua obra contemporânea com os vitrais góticos, à medida em que enxergamos a cor como uma manifestação e, mesmo ainda dependendo de uma forma para se manifestar, sua manifestação plena não a obrigada necessariamente a se vincular à forma. Também é possível perceber nas obras e nos textos dos minimalistas a manifestação da cor no espaço. Turrell permite uma sensível profundidade de cor “imaterial” na qual o espectador é colocado à sua própria percepção. De forma semelhante, Olafur Eliasson trabalha ambientes nevoados onde a cor também se apresenta desmaterializada, libertada de um eventual suporte e dos pigmentos da pintura tradicional, para se reconhecer como fenômeno, ainda mesmo que os artistas se remetam à tradição pictórica. O corpo parece perder sua presença e consistência.
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Cor, arte e arquitetura: Rainha da Sucata
Por Marcelo Albuquerque
A arquitetura e o uso da cor manifestam as reverberações pop, como ocorre na cidade de Belo Horizonte, no edifício conhecido por “Rainha da Sucata”, na Praça da Liberdade. Embora o termo pós-modernismo seja um termo que desperte controvérsias, é usado para definir boa parte dos aspectos artísticos do último quarto do século XX. De certo modo, o pós-modernismo é uma rejeição ao modernismo ao mesmo tempo em que é uma prolongação dele. Enquanto o modernismo, de forma geral, desejava criar uma utopia moral e uma estética universal, o pós-modernismo celebra o pluralismo do final do século XX. Esse pluralismo é percebido pelos veículos de comunicação em massa e a proliferação das imagens. Boa parte do enfoque pós-moderno está na questão de representação, citações e apropriações em novos contextos ou despojados de seus significados tradicionais (desconstruídos). Foi aplicado originalmente à arquitetura, nos anos 1970, para definir as construções que se afastavam do ideal racionalista e funcionalista que marcaram o modernismo, culminando no Estilo Internacional, em troca de estruturas ambíguas e contraditórias, permitindo a inserção de elementos historicistas, ecléticos, de outras culturas e cores ousadas[1]. Polêmico desde o nascimento, o edifício ainda causa repulsa e admiração, para leigos e entendidos: para muitos, representa o próprio mau-gosto edificado, kitsch, desproporcional e agressor de seu entorno. Para outros, uma jóia da arquitetura contemporânea pós-moderna brasileira. Dialogando de forma irônica e irreverente com o entorno, o edifício é composto por colagens e citações que compõem um projeto de grande expressão imagética. A arquitetura pós-moderna revalida a ambiguidade e a ironia, a pluralidade dos estilos, o duplo código que lhe permite voltar-se tanto ao gosto popular (citações históricas e vernaculares) quanto aos métodos compositivos arquitetônicos mais eruditos. Éolo Maia e Sylvio de Podestá privilegiaram a utilização de formas e cores derivadas das artes plásticas, adaptando-as ao contexto tecnológico, construtivo e funcional, de maneira análoga a proposta do arquiteto Robert Venturi do “elemento de duplo funcionamento”, referindo-se ao abandono da ideia da “forma seguir a função”, de Louis Sullivan, para uma agregação da função a um elemento estético. É o que acontece com o elemento de ventilação dos sanitários públicos masculinos, em forma de laranja partida, que ao mesmo tempo em que camufla a estrutura (duto de ventilação) faz referência ao contexto pop de apropriações, colagens e montagens, a maneira do pintor pop Roy Lichtenstein. Internamente, o tratamento plástico e volumétrico representa elementos do barroco mineiro através de formas e materiais. Paolo Portoghesi também aponta a associação da Pop Art em relação aos objetos banais e a possibilidade de reintroduzi-los numa operação conscientemente artística[2].
Charles Moore. Piazza d´Italia, Nova Orleans, 1975-80. Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Piazza_d%27Italia,_New_Orleans. Acesso em: 15 set. 2017.
Éolo Maia e Sylvio de Podestá: Centro de Informação ao Visitante (Rainha da Sucata). Praça da Liberdade, Belo Horizonte. Foto: Marcelo Albuquerque, 2017.
Éolo Maia e Sylvio de Podestá: Centro de Informação ao Visitante (Rainha da Sucata). Praça da Liberdade, Belo Horizonte. Foto: Marcelo Albuquerque, 2017.
Éolo Maia e Sylvio de Podestá: Centro de Informação ao Visitante (Rainha da Sucata). Praça da Liberdade, Belo Horizonte. Foto: Marcelo Albuquerque, 2017.
Roy Lichtenstein e Diego Delgado: A Cara de Barcelona, 1991-92. Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:La_Cara_de_Barcelona. Acesso em: 15 set. 2017.
Charles Moore com Saputo e Rowe, projeto da sede daItalian-American Federation em Nova Orleans, 1979. Fonte: PORTOGHESI, Paolo. Depois da arquitetura moderna. p.146-147.
[1] DEMPSEY, 2003, p. 271-272.
[2] PORTOGHESI, 2002, p.116.
Veja também:
Josef Albers
Por Marcelo Albuquerque
Josef Albers ingressou com aluno na Bauhaus em 1920 e tornou-se professor em 1925 do Vorkus (Vorlehre). Ficou na Bauhaus até o seu fechamento pelos nazistas em 1933, imigrando a seguir para os Estados Unidos, onde desenvolveu seus importantes estudos pedagógicos da cor. No seu livro A Interação da Cor, influenciou decisivamente a pedagogia da cor contemporânea e movimentos artísticos como o Minimalismo e a Op Art. A Interação da Cor está relacionada às misturas óticas, aos contrastes simultâneos e à percepção; na verdade, os fenômenos relativos da cor e suas interações são explicados pela psicologia da percepção e fundamentam diversos processos científicos e técnicos de obtenção de cores. Albers direciona os estudos para o estudante de arte estar atento à aplicação desses princípios na arte, na arquitetura, na tecelagem, no projeto de interiores e na produção visual e gráfica para a mídia impressa em todos os níveis tecnológicos. Em seu método, buscava despertar o interesse do aluno pela experimentação prática, autoconhecimento do gosto estético e por exercícios que propõem desdobramentos de modelos pré-existentes, mas que se renovam a cada execução de acordo com as novas percepções trazidas por novos alunos. Seus princípios pedagógicos eram[1]:
- Na percepção visual, quase nunca se vê a cor como ela é fisicamente;
- A cor é o meio mais relativo dentre outros empregados na arte;
- É preciso reconhecer que a cor sempre engana;
- Uma cor evoca inúmeras leituras;
- Uma cor deve ser analisada por contraste e comparação a outra;
- A prática precede a teoria;
- O fato físico não é coerente com o efeito psíquico;
- Os exercícios são explicados e ilustrados para não sugerir a resposta, mas uma forma de estudar e reinventar o mesmo princípio;
- Seu estudo não se refere aos pigmentos e corantes (análise anatômica e física), mas na interação perceptiva.
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Arte contemporânea: vídeos
Em breve.
Livros e E-books de Marcelo Albuquerque
Roma: para artistas, arquitetos e viajantes

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Cor: fundamentos artísticos e estéticos nas artes plásticas

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