Templos etruscos

Por Marcelo Albuquerque

Na Itália, nos grandes museus, não é incomum encontrar fragmentos de antigos templos etruscos. As tipologias dos templos etruscos provem da segunda metade do período arcaico, por volta do século VI a.C. Como um templo grego, seu espaço era dedicado ao culto e preservação da estatuaria e de paramentos ritualísticos. Porém, os etruscos desenvolveram o tipo de planta com três cellas, antecedido pelo grande pórtico, ou pronaus, como visto nos templos da Tríade Capitolina (Júpiter, Juno e Minerva, para os romanos; Zeus, Hera e Atena, para os gregos). As tipologias templárias etruscas, junto às gregas, formam os fundamentos dos desenhos dos futuros templos romanos. Em Roma, o grande templo etrusco nos primórdios da cidade foi o templo da Tríade Capitolina de Jupiter Optimus Maximus, no Monte Capitolino, ornamentado pelo escultor etrusco Vulca, o mais famoso de todos os escultores do período. Templos mais simples possuíam apenas uma cella, que podia ou não conter colunas na fachada frontal. Algumas plantas apresentam a alae, ou seja, cellas com função de corredores laterais. No santuário de Portonaccio, em Veios, do templo de Apolo possuia três cellas, com magníficas esculturas acroteriais, preservadas no Museu Nacional Etrusco de Villa Giulia, em Roma, incluindo a icônica escultura de Apolo de Veios.

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Reconstituição de templo etrusco em um totem informativo. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Planta provável do templo de Jupiter Optimus Maximus, no Monte Capitolino, Roma. Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Temple_of_Jupiter_Optimus_Maximus. Acesso em: 10 jan. 2017.

Podium e embasamento elevados de pedra foram introduzidos pelos etruscos e não eram comuns na arquitetura grega. Sua função era elevar o templo sobre o nível do calçamento, forçando a entrada das pessoas ao mesmo pela escada da fachada frontal. Os gregos, por sua vez, adotavam a estereóbata e estilóbata como plataformas de seus templos. O alto podium era, em geral, decorado com molduras. Eles desenvolveram uma nova ordem arquitetônica, semelhante à ordem dórica grega, chamada de Ordem Toscana.

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Ordem toscana das colunatas de Bernini, no Vaticano. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Os templos, por serem de madeira, além das bases de pedra, não se salvaram como os templos de pedra ou de concreto romano. A ornamentação de telhados e beirais era produzida em terracota, como vemos nos acrotérios, baseados em máscaras de figuras religiosas-mitológicas e ornamentações vegetais, como palmetas. O Museu de Villa Giulia possui em seu acervo preciosos elementos estruturais e ornamentais de templos etruscos. Desenvolveram, para a criação de peças em série, moldes que replicavam as estátuas acroteriais e os revestimentos ornamentais dos edifícios. Entretanto, ajustes eram realizados em cada peça, retirando suas imperfeições de fabricação, dando a cada peça um carácter único.

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Acrotérios em terracota. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fragmentos do templo de Scasato. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fragmentos do templo de Sassi Caduti. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

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Fragmentos de frontão, com figuras de deuses e personagens míticos (Atena, Zeus, Polifonte, Capaneo, Tideo e Melanippo). Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

No jardim da Villa Giulia podemos observar a reconstrução em tamanho natural do templo etrusco-Itálico de Alatri. A estrutura foi construída entre 1889 e 1890, com base nos restos de um edifício sagrado, datado dos séculos III e II a.C. O templo é constituído de uma cella com pronaos na fachada frontal. Parte dos ricos fragmentos de decoração de terracota adornavam o entablamento e os beirais da empena (frontão).

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Templo Etrusco de Alatri. Museu Nacional de Villa Giulia, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Nos Museus Capitolinos, em Roma, estão fragmentos do templo etrusco de Mater Matuta, iniciado no século VII a.C., nos pés do Monte Capitolino, perto do Fórum Boário. Possuía uma estrutura tradicional etrusca, com revestimentos ornamentais em terracota, uma das mais antigas edificações encontradas em Roma. O edifício sofreu modificações, inclusive pelo rei etrusco Sérvio Túlio, no século VI a.C. Foi modificado para a construção de dois templos, de Fortuna e Mater Matuta, após a expulsão dos etruscos. Os seus achados, que incluem diversos objetos cerimoniais, imagens e utilitários, estão expostos nos Museus Capitolinos.

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Fragmentos do templo etrusco de Mater Matuta. Museus Capitolinos, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.

Publicado por

Marcelo Albuquerque

Pintor, desenhista, professor e escritor. Professor assistente da UC Expressão Visual, UC Estudos Críticos: história, arte e cultura, História da Arte, Arquitetura e Urbanismo, Teoria e História do Design, Desenho de Observação, Plástica e Patrimônio Cultural no Centro Universitário UNA, na graduação de Arquitetura e Urbanismo, Design Gráfico, Design de Moda e no curso tecnólogo de Design de Interiores. Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes - UFMG. Especialista em História da Arte pela PUC MG. Especialista em Ensino e Aprendizagem na Educação Superior. Bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes - UFMG. Possui em seu currículo mais de 40 exposições artísticas e 3 livros publicados. É autor do website Arte e Cultura, disponível em: arteculturas.com e do website, disponível em: artealbuquerque.com.

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