
Por Marcelo Albuquerque
Nos primórdios, as aldeias etruscas eram compostas de cabanas de partido retangular ou ovalado. A principal fonte arqueológica sobre a arquitetura etrusca concentra-se nos adornados túmulos, como veremos mais adiante. Os gregos influenciaram sua arquitetura a partir do período orientalizante, no século VII a.C., introduzindo os telhados de terracota, relatado por Plínio na sua obra História Natural. Eram utilizados diversos elementos de terracota, como relevos, acrotérios e pináculos modelados e pintados com motivos do repertório grego. Com o passar do tempo, artesãos especializados desenvolveram diferentes técnicas, capazes de produzir complexos moldes, reproduzindo em larga escala os ornamentos e demais peças artísticas e arquitetônicas.
As residências etruscas, como mostram as escavações de Acquarossa, até o final do século VII a.C., evidenciam tipos de uso doméstico para as classes mais altas. Em geral, a planta de uma casa possuía um pátio central, que evoluiu para a domus italica dos romanos, descrita por Vitrúvio no Tratado de Arquitetura. Sobre a domus italica, veremos com maior profundidade no texto sobre Pompeia.
Ruínas templárias de Marzabotto e planta do sítio arqueológico. Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Marzabotto. Acesso em: 10 jan. 2017.
Os etruscos legaram um traçado ortogonal planejado, desde o século VI a.C., conforme visto na cidade de Marzabotto, concebida em dois eixos perpendiculares ritualmente desenhados. O desenho centrado a partir de duas ou mais ruas principais perpendiculares, como a planta milésia ou rodiana helenística, de Hipódamo de Mileto ou Dinócrates, era aplicado na Grécia e suas colônias pelo Mediterrâneo. A cidade com traçado ortogonal, com duas ruas principais, em cruz, provavelmente inicia a tradição do cardus e decumanus romano. O costume de adotar acrópoles como centros religiosos também era comum na Etrúria. Estes princípios revelam a existência de um governo centralizado capaz de planejar o desenvolvimento dos centros com maior organização urbana. Com o tempo, praticamente todas as cidades de Etrúria foram equipadas com muros defensivos e, eventualmente, com portas em arcos monumentais, como vistas em dias atuais em Volterra e Perugia.

Porta Augusta, Perugia. Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Perugia. Acesso em: 10 jan. 2017.
As cidades e a arquitetura etrusca são fundamentalmente influenciadas pela Magna Grécia e, em menor escala, pela Assíria, Egito e Fenícia, vistas na engenharia, como aquedutos, esgotos, portos, indústria e comércio. O arco, a abóbada e a cúpula são introduzidas na península itálica, tornando-se as grandes contribuições etruscas que impulsionarão a arquitetura, engenharia e estética romana no futuro. A Porta Augusta, em Perugia, é um dos primeiros exemplos da introdução do arco em escala monumental no vocabulário das ordens clássicas. O arco de triunfo romano, por exemplo, é derivado das portas etruscas. A Cloaca Máxima, o grande esgoto que possibilitou a construção e drenagem do Fórum Romano, foi desenvolvida por engenheiros etruscos durante o domínio desses em Roma, no período da Monarquia.

Cloaca Maxima, no Fórum Boário, Roma. Foto: Marcelo Albuquerque, 2019.
Um comentário sobre “A cidade etrusca”